sábado, 18 de dezembro de 2010

Hold on to my heart

Quando mais os dias passam e mais as coisas se apressam, mais incerto é o nosso destino. Ao invés de trazer a certeza, o tempo vem trazendo a dúvida. Sabemos disso mais do que ninguém, sofremos com isso mais do que qualquer um poderia sofrer. E por mais que eu diga que devemos guardar as dores pra quando elas realmente forem necessárias, não consigo esconder a minha dor em saber que você e eu podemos estar mais longe do que já estamos. Sempre fui otimista quanto a nós dois, mesmo não sendo a pessoa mais otimista do mundo quando se fala de amor. Sei de um milhão de casais frustrados que prometeram viver juntos para sempre, e falharam miseravelmente. Eu não quero que façamos parte desses casais.
Te peço que segure firme na minha mão, como faz todas as vezes que estamos juntos, e que prometa que vai lembrar de mim, aonde quer que estiver, não importa quanto tempo passar. Como eu te falei, não vou nunca desistir de você. Passei tanto tempo tendo um único sonho, sabes bem qual  é. Hoje, eu tenho mais um sonho de vida, e creio nele com a mesma força do primeiro. Esse sonho, meu bem, é você.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Percepção

Ela olhava para os lados, perdida em pensamentos.
- Obrigado - disse ele.
Estranhando a pergunta, ela olhou-o nos olhos e quis saber o porquê do agradecimento.
- Por ter me feito perceber como é quente o teu abraço, como é doce o teu beijo, como eu sinto falta do teu olhar, e mesmo da tua voz de censura. Por ter feito eu ficar com medo de te perder, por ter feito com que eu ficasse preocupado, por ter feito a consciencia ficar pesada. Obrigado por me fazer ficar com raiva, me fazer querer acabar tudo, me fazer te odiar com todas as minhas forças, por me fazer derramar lágrimas. Por me fazer perceber o quanto eu sou dependente de você. Obrigado por me fazer sentir amor de verdade, não só uma paixão, uma vontade de ter alguém. Obrigado por me fazer sentir a coisa mais bonita que eu já pude entender, e por marcar pra sempre o teu nome no meu coração.
Ela ficou com os olhos cheios de lágrimas, e foi lhe dar um beijo, mas ele disse:
- Desculpa.
Sem entender nada novamente, e com cara de espanto, quis saber o motivo do pedido de desculpas. E ele respondeu:
- Por eu não ter dito isso antes.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Blitzkrieg

Precisamos de alguns choques pra reagirmos de maneira natural. As vezes esquecemos quem realmente somos. As vezes vemos alguma coisa que nos faz mudar de opinião. Tive a impressão de ler pensamentos, de ver meu futuro, e achar que queria algumas coisas de modo diferente. Não é certo ser imutável, mas mudar coisas que não se quer mudar é o prelúdio do arrependimento. Então ver tudo o que odiamos na nossa frente, como um tapa na cara, é um banho de água fria. Todos temos um instinto homicida, uma raiva contida, algo que não sabemos administrar muito bem, e que cedo ou tarde se revela. A simples vontade de cometer uma agressão já é um meio de perder o controle.
Tudo começa com uma faísca, logo o fogo é incontrolável. A violência, o sexo, as drogas, as mentiras e o suícidio são o que eu chamo de verdadeira face humana: uma face suja, sórdida e sem salvação. E é isso que todos insistimos em acreditar, em salvação. Matamos, mentimos e contratamos prostitutas, mas mesmo assim esperamos clemência divina.
Existe muita raiva dentro de mim, muito mais do que eu deixo transparecer. Talvez eu seja um pouco mais psicopata do que as pessoas ao meu redor, não sei se isso é bom ou ruim. Mas não acredito em coisas ao acaso, voltei a acreditar que existe algo nos vendo e nos guiando, tanto para o bem como para o mal. Como já disse um certo alguém, "as vezes os erros fazem parte da solução."

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Translação

Assim como as estações, pessoas têm períodos distintos, do calor extremo e de cores vibrantes ao zero absoluto cinza chumbo. As pessoas passam muito tempo no inverno, soterradas na neve, longe da luz e do fogo. Sofrem necrose de sentimentos. O vento gelado corta o peito diariamente. As lágrimas são tempestades barulhentas e assustadoras, porem inevitáveis. Então os dias passam e vem o sol escaldante, a água de côco, o banho de mar. Tudo está maravilhoso, o sol brilha todo o dia, a noite demora pra chegar. As flores estão sorrindo, e o céu tem a cor dos olhos mais azuis.
Odeio o frio, a chuva e o vento, prefiro o calor e os raios de sol. Já se foi o tempo em que sorrisos eram só disfarce, não tenho a tristeza que costumava sentir. Ainda há os olhos e a maquiagem, o cabelo e sua tintura, que remetem ao fundo da alma. Ainda há uma ponta de loucura, agonia e depressão, que a cada dia mais se traduz em crueldade. Agora entendo como surgem os vilões, começam com tristezas e incertezas que se transformam em segredos e mentiras. Aprendemos a guardar palavras, a guardar ideias.
E se já não choro ou desabo, ainda odeio e faço pouco caso. Eu machuco e sei disso. E ainda mais: amo com a mesma intensidade que consigo odiar. Não pensei mudar tanto assim, mas é o curso das vidas; encontrei um sol para girar em torno, o qual sustenta a vida que há em mim. Encontrei alguém que me fez pensar diferente, mesmo que não seja tão diferente assim. Aprendi que me cuido mais com alguém que cuida de mim.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Whispers

Um dia eu vi que as vozes na minha cabeça tinham boca, olhos e nariz. Tinham pernas e pés, braços e mãos também. Elas podiam andar, correr, pegar e matar. Acho que elas gostavam de seguir essa ordem: andavam até mim, me faziam correr (e corriam atrás), me pegavam e me matavam noite após noite.
Essas vozes odiavam luz, e por isso tiraram toda ela. Transformaram meu quarto em um lugar escuro: as paredes eram pretas e o chão parecia uma das paredes. Eu dormia nele, já que elas levaram a minha cama. Elas também levaram minhas roupas, minha família e a chave da porta. Minha vida era uma noite interminável, no mesmo quarto sem luzes, deitado no assoalho, com medo de levantar.
Comecei a escrever um diário, e as vozes me ditavam o que escrever. Eram coisas tristes, cheias de raiva, de dor e de solidão, Era o mundo que elas conheciam, e o qual me ensinavam a conhecer. Cada dia eu sentia que uma parte de mim se esvaia, eu já não era tão humano assim. Não tinha mais ouvido o som da minha voz, pois eu ficava quieto, apenas escutando. As outras vozes, bem, elas nunca se calavam.
Mas então, parte de mim se perguntou como é que eu via os corpos, se tudo estava escuro e eu não conseguia ver nem o meu? Teriam essas vozes me enganado todo esse tempo, me fazendo viver isolado de tudo por ter medo de ser apanhado por suas garras imundas?
E aí eu ascendi a luz. E não tinha nada. Elas ainda falam, mas nunca mais dei ouvidos a essas vozes filhas da puta. Fodam-se elas.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Missing you

I've been far away, through a million skies.
You were at nowhere, nowhere I could see.
I've been lost in the blue, then noticed your eyes
Brown spheres, everywhere, and they hypnotized me.

I always wanted to sail, to take the sea
But my boat, it never left the bay.
And on the ground, I wasn't free,
A voice was calling, from miles away.


It was you, and you're kind of holiness,
Against my soul filled with darkness,
You were the saint, I was the sinner.

I'm still on earth, hands tied with sadness.
Now I know distance dances with badness,
We are the paint, love is the limner.

sábado, 17 de julho de 2010

Killer fangs kissing

Não era tarde da noite, porém era tarde para se chegar em casa. E chovia, uma garoa fina que vinha caindo desde a aurora, trazendo consigo um vento fraco. Se eu pudesse reconhecer temperaturas, acredito que estava frio, e que o ar em movimento era mais gélido que o beijo da morte.
Morte. Beijo. Lábios que tocam suavemente os lábios mortais, e em uma última demonstração de amor, os privam das dores e desesperos deste plano terreno. Não há mais angústias, não há mais o que temer. Um beijo que encerra o ciclo iniciado pelos progenitores, que também se uniram por um beijo. É o mesmo beijo que a mãe dá ao filho quando este nasce. Um beijo que te desprende das correntes do passado, e te lança às embarcações do futuro, onde serás livre para navegar pra onde e como quiser.
Este beijo vai te tirar o Sol, vai te tirar o ar, vai te tirar a vida. Esqueça o que são sentimentos, pois estes não terá mais, e assim evitará as dores. Nunca envelhecerá e nunca sofrerá de doença. Vencerá a morte, assim como eu venci. 
Não é tarde da noite, mas ainda assim é tarde para chegar em casa, tens uma filha a te esperar. Esqueça-a. Estou tirando a mãe desta menina. Ela não vai dormir por várias noites, perguntando-se onde está a mãe adorada. Você não vai dormir noite alguma, e seu único desejo maternal é o de saciar a fome e a sede, com carne e sangue.
Deixe-me beijar-te. Sinta a vida se esvair, e a noite tomar conta de tudo o que há dentro de você. De tudo o que há dentro de nós.

sábado, 10 de julho de 2010

Medo

Não me deixe pensando que as coisas ruins vão acontecer, que há um milésimo de chance de alguém vir e te tirar de mim, nem que seja por alguns minutos. Não deixe que alguém venha e roube teus lábios e teu olhar e o jeito com que segura o meu corpo, nem que seja por uma noite só. Não permita que as doses de tequila te façam agir por impulso, e te mostrem rostos mais belos que o meu, com bocas muito mais atraentes. Não se deixe agir pelo privilégio do segredo, de fazer coisas com alguém desconhecido em um mundo paralelo. Não, por favor não, se dê a liberdade de ter pensamentos desejosos ou sentimentos quaisquer por um nome diferente do meu. Eu te imploro, por favor, não quebre meu coração, como já fizeram tantas vezes. Estou te confiando o que há dentro do peito, e atrás dos olhos, que se enchem de lágrimas ao pensar em não suprir tua necessidade de amor. Eles estão cheios agora, e já faz tempo que precisam esvasiar. Eu te amo, do jeito mais sincero que eu consigo amar, e em função disso, temo a tua ausência no sentido mais denotativo que é possível temer.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Carta de Suicídio

Não sei mais, não consigo mais escrever. Ando desanimado, não falo contigo já faz mais de 24 horas. Não me mate assim, de saudades. Tire a corda do meu pescoço, por favor. Não, são Pedro, vou esperar aqui fora. Esperar minha menina chegar.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Você vai odiar o meu jeito de expressar...

... a tristeza. E também a insatisfação. Porra, eu saí de casa querendo chutar as coisas, saí definitivamente puto. A minha vontade de sentar e chorar era enorme, mas é algo que eu não consigo fazer tão facilmente. Essa tua dificuldade em chutar o balde é a minha dificuldade de enchê-lo de lágrimas. Não sai assim. Eu não consigo adivinhar o que tu sentes e muito menos o que tu pensas. Nunca entendo se é algo que eu disse, que eu fiz, que te desagradou, pois nunca deixa tudo claro pra mim. E é isso que me derruba, não quero ter no meu currículo outros erros que te deixaram magoada. Juro que tento ser o mais compreensível possível, e sei que não sou o tipo de cara que é simples de entender, e menos ainda fácil de se aceitar, mas não podes negar que eu tento. Dos meus diversos defeitos, o orgulho sempre foi um dos maiores traços da personalidade, e não vai ser fácil vencê-lo. O que eu não quero é sair de casa pensando "puta que pariu, o que é que irritou ela tanto?", ou perguntando ao vento se fui eu quem te deixou assim, e se sim, o que foi que fez isso. Já está tudo tão frio, tão morto sem você, que quando o minimo de harmonia some, parece que a esperança se vai pra sempre. E o tabaco e o álcool vão vir, mais fortes do que tudo. Primeiro porque com eles vêm o retrato de como está o espírito: sujo, sem equilíbrio, tropeço e cheio de nauseas. Segundo porque é o que detestas. E é assim que eu tento dizer que estou abatido, irritando os outros. E, mais uma vez, não fiquei embriagado, o que vem se tornando comum, as doses de bebida insistem em me manter sóbrio. E o que me deixa mais depressivo é que não sei com exatidão o dia em que vou te ver, e que hoje a noite, vou dormir sozinho, sem você do meu lado; vou sonhar contigo, e vou estar louco pra chorar todas as lágrimas que estão trancadas atrás dos olhos. Eu preciso pegar o telefone e ouvir tua voz, mas sei que não vai atender, porque é madrugada e tens de acordar cedo. Sei que não vai vir. Sei que tudo parece querer soar mais trágico do que realmente é. E consegue.

sábado, 26 de junho de 2010

Os 63 primeiros dias

O espelho não tem mais graça ao me refletir sozinho. Tua imagem já é parte indispensável do semblante meu. Isso explica o amanhecer mal humorado, pois o reflexo matinal não te mostra. E, como adepto dos pecados capitais, volto a perceber tua ausência através da minha vaidade, que não me tira da frente do espelho. Não apenas este, todo o cenário à minha volta está decorado com lembranças. E eu me agarro nas às fotos, a antigos versos. Me perco nas palavras, nas reclamações, em todas as queixas de mau comportamento, em todas as vezes que eu ri e você amarrou a cara. Você faz com que qualquer outra pareça chata e extremamente imperfeita, e sei que nenhuma delas substituiria o gosto do teu beijo ou os arrepios que tenho ao tocar teu corpo. Você conseguiu fazer aquele que não via a hora de o ano acabar ter medo do fim deste, pois o temor de uma despedida me tira o sono. Longe de ti eu não aguento; ultimamente está difícil de aguentar as lágrimas. Porque insistem em nos manter distantes, meu bem?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Meu verão

O inverno vem, e todo o ano você se pergunta se haverá alguém pra ficar abraçado. Mais do que o frio que rasga a pele, é a gélida sensação de abandono que congela o coração. Você olha para os lados e há casais de mãos dadas, há namorados tomando chocolate quente. Nas manhãs mais frias, os pares não acordam sozinhos, mas sim entrelaçados, ambos os corpos se esquentando. Mas você não, você acorda sozinho, com frio, com o peito gelado e abandonado. Você gosta de estar agasalhado, mas odeia todas as lembranças ruins que o inverno te traz. As lembranças de estar sempre sozinho, sempre esperando. E então os dias nublados e cinzentos tem a mesma cor do seu espírito, que não sabe como se alegrar e está até mais frio que o próprio inverno. Nessas horas você acha que nunca, nada na vida, vai ser pior que isso. Aí vem o tempo e te contraria. Aparece uma pessoa que você ama, e ela também te ama, e você não vê a hora de andar de mãos dadas e de tomar chocolate quente. Não vê a hora de abraçar, de dormir junto e acordar entrelaçado. Porém, não pode. Outro vilão, chamado distância, insiste em te deixar acordando sozinho e praticamente congelado. E então tudo piora, você sabe que tem alguém, mas não pode ver a todo o momento.
Há dias porém, em que toda a saudade parece ter valido a pena, e você vê o alguém amado. E você sente que, por algumas horas, o inverno rigoroso vai embora. Você sabe que o gelo vai voltar muito mais forte depois, mas que durante essa convenção de minutos, é verão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Bram Stoker

As luzes já haviam se acendido, mas mesmo assim a rua estava escura. E além de escura, estava silenciosa e deserta, fazendo com que o som de cada passo parecesse amplificado. Engraçado como tudo sempre fica escuro e morbidamente quieto depois que a noite se instala.
Lucy estava apressada, queria chegar em casa logo. Acabara se atrasando no trabalho e precisou ligar para a babá, pedindo que ela esperasse mais alguns minutos antes de sair. Pobre Anne, passava o dia todo com a babá, enquanto a mãe trabalhava no escritório do sr. Morrinson. Ás vezes Lucy pensava que a filha estava crescendo depressa, mas ela não estava lá para observar.
Se o pai de Anne tivesse se importado, tudo seria diferente. Os 200 dólares que mandava no fim do mes mal pagavam a babá. Lucy tinha de ser mãe, pai e ainda mentora financeira da casa. Entre cuidar do trabalho e do lar, acabava sem tempo para a filhinha. Acabava sem tempo para ela mesma.
Ajeitou os braços mais próximos do corpo para se proteger do vento frio. A visão periférica detectou uma espécie de movimento, e Lucy notou alguém do outro lado da rua. Não deu importância. Passou a lembrar dos tempos da faculdade, onde era jovem e bela, e as coisas pareciam maravilhosas. Lucy era loira, de rosto simétrico, com uma incrivel beleza para uma mulher na casa dos 28 anos. Mas não se comparava aos tempos de quando fora a garota mais irresistível do campus. Era extremamente bonita e usava isso a seu favor. Então veio Anne...
Lucy balançou a cabeça. Não podia pensar isso, não podia atribuir culpa nenhuma à sua criança. Ouviu passos ligeiramente atrás dela, e virou a cabeça para ver quem era. A pessoa que estava do outro lado da rua havia atravessado. Lucy percebeu que era um sujeito de cabelos bagunçados, extramamente claros, beirando o branco. Parecia ter cerca de 1,80, de corpo esbelto e ombros largos. Vestia um sobretudo preto, e um cachecol também preto dançava ao vento. Olhando melhor, percebeu que toda a vestimenta era preta. Mas o que mais chamava a atenção eram seus olhos: de um azul muito intenso, fitavam diretamente os olhos de Lucy. Pareciam perigosos, e, ao mesmo tempo, irresistíveis.
Lucy voltou o rosto para a frente, tentando entender o que havia de tão estranho com aqueles olhos, quando ouviu uma voz fria, porém amistosa:
- Normalmente recomendam às donzelas que não andem sozinhas depois do anoitecer.
Lucy virou-se, rindo de nervosismo, e respondeu:
- Eu sei.
- Frio, não? - perguntou o homem, descontraído - Particularmente, eu adoro temperaturas baixas, mas a maioria das pessoas...
- Perdão - interrompeu Lucy -, mas eu estou com pressa.
Dizendo isso, tornou a virar-se. Então, teve um misto de horror e surpresa. O homem estava bem na sua frente. Notando o espanto que se formava no rosto de Lucy, falou:
- Nós dois estamos andando na mesma direção. Não seria pedir demais desfrutar de sua companhia por alguns metros de caminhada, seria?
Desconcertada, Lucy concordou. Realmente, não seria incômodo nenhum ser acompanhada por um belo homem até em casa. Porém, a cada passo este estranho se tornava mais enigmático. Conseguia ser tão assustador como sedutor, o que não dava muita segurança.
- Me chamo Victor - disse ele. - E a senhorita?
- Lucy - respondeu ela, olhando cautelosamente para os olhos de Victor. Malditos olhos, aqueles.

* Esse texto foi escrito com a intenção de ser públicado em outro projeto meu, mas resolvi adiantá-lo neste blog, com um título provisório, uma alusão ao conteúdo central da obra.

domingo, 13 de junho de 2010

Alê, Valentin!

Ele não sabia se era frio ou quente, se iriam trazer sua jaqueta, se iam gostar da aparência, se ela ia receber o presente. Não sabia se era normal o pé parecer morto, o estômago explodir, a raiva subir à cabeça.
Esse nunca foi o seu ideal de história emocionante, muito menos o de um dia dos namorados. Mas isso não quer dizer que não foi bom, não quer dizer que ele não gostou.
Não importava pra ele se as coisas tinham saído um pouco do controle, se as churrasqueiras não poderiam ser alugadas, se ele teve vontade de cometer homicídios.
O que importava é que ela estava lá. E ele não cansava de notar, a cada vez que a via, de que ela era perfeita. O que a princípio foi um sentimento de "ela é bonita e legal" evoluia dia após dia, e no momento se descrevia na frase "não posso perdê-la, de maneira alguma".
Assustava demais, pensar em não tê-la mais. De não ter os beijos, os abraços, a paciência, o apoio. De não ter mais o amor. Estava tudo tão bem, que se o tombo viesse dessa vez, seria o pior de todos.
E a saudade, machuca, sim, mas se supera. Mesmo sonhando que moravam juntos, que podiam ter um ao outro a hora que quisessem, sabia que a realidade era diferente. E a realidade era que, não importam os dias que passam, eram todos vividos com um unico objetivo: esperar por ela.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Crise de Abstinência

Restaram algumas partículas do teu perfume na minha roupa e na ponta dos dedos, e passei a usá-las como cocaína. Foram apenas algumas carreiras pra ficar alto. Viciei. Quando o teu cheiro encontra as vias respiratórias e toca a corrente sanguínea, eu fico eufórico. Já não consigo ficar alguns dias sem consumir dessa substância, preciso ingerir doses cavalares apenas pra enfrentar o dia. Pensei até em comprar um frasco do perfume que usas, e cheirá-lo alucinadamente. Não funcionou. É a fusão deste com o teu odor natural que se torna viciante. Sem falar que, como todo o viciado, parti para drogas mais potentes. Tua pele e tua boca me levaram à ruína. Agora eu vejo a minha vida voltada para o meu consumo desenfreado de ti, que não se consuma diariamente, e assim me consome por inteiro. O pior é que não quero me submeter à reabilitação, não quero me afastar dessa necessidade doentia. Sou assumidamente um dependente químico - seu.

domingo, 6 de junho de 2010

Soneto de Outono

Que tens nos olhos, ao me fitar desse jeito?
Parece que rouba todos os meus sentidos,
Encontra e rejunta os pedaços partidos
Que repousavam dentro do meu peito.

Que tens nos lábios, ao lançar esses risos?
É um sorriso que me invade, contagia,
Que me faz sorrir também, e até ousaria
Dizer que na doença, são o éter que preciso.

Oh, dias que não passam, longe da minha menina,
Se arrastam lentamente, como um pobre moribundo,
Que se nega à rendição e não aceita sua sina,

E quem explica essa lei, que governa nosso mundo,
Onde o dia esperado - quando chega - já termina,
E faz saudade doer, e o amor ser mais profundo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Comofas?

Eu não sei lidar muito bem com saudades. Talvez eu não saiba lidar muito bem com o amor também. Então, quando eu sinto amor e saudade ao mesmo tempo, eu fico louco.
E o que fazer pra lidar com o que você não sabe lidar direito? Como suprir a falta do teu abraço, do teu beijo, a tua falta? Como abastecer meus dias de alegria se você é o combustível?
Eu não sei, não sei mesmo. E aí eu sento e tento escrever algo, que espero te fazer sorrir, na frente da tela, e assim me sinto mais perto de você. Infelizmente não é tão perto como eu queria, não é tão perto como estamos de coração.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Coming to DESTROY!

Eu tenho vontade de matar vocês, as vezes, e eu sei que vocês tem vontade de me matar. Não tem uma só vez em que alguém não zoa alguém, e que os outros não riem. Não teve um só final de semana em que não ensaiamos, um só que o retardado da bateria tivesse acertado todas as músicas, que o viadinho do baixo não precisasse de 124558 explicações pra saber como se toca, que o pseudo colírio da capricho da guitarra não xingasse o baterista (que errou mais uma vez) e que o vocalista gay não fizesse uma piada sem graça.
E daí? E daí que a gente mal tem 30 dias, 4 fins de semana, 8 ou 9 ensaios, 2 músicas e meia, 4litros de vodka, 2 de whiskey, algumas garrafas de energético e a primeira vez que eu sinto o real espírito que existe em uma banda. Somos quatro loucos que acreditam na mesma coisa, uma coisa sem sentido, com o mínimo de chance de dar certo, mas que a gente acredita. E a gente tá cagando e andando pra todo o mundo, cagando e andando pra tudo, pra isso de sorte, de chances baixas... Foda-se. NÓS temos absoluta certeza de que vai dar certo, de que nascemos pra isso, não importa o que digam.
Cara, eu amo vocês, do jeito mais másculo possível, e eu acredito em vocês, assim como acredito, do fundo da minha alma, no rock n' roll.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Smells like... narguile

Foram poucas horas, pouco tempo. E, num geral, foram poucas vezes. Uma mísera porcentagem desse mes, que passou tão rápido. E mesmo assim, poucos foram os dias em que não conversamos. Poucos foram os dias em que eu não pensei em você.
E hoje, mais uma vez, a areia correu rápido demais. Sempre acho que anós precisávamos ficar mais tempo juntos, precisávamos esticar as horas, mas tenho certeza de que quanto mais tempo nos derem, mais tempo eu vou querer. Porque cheguei à conclusão de que se deixarem, eu fico abraçado contigo e não te solto mais, nunca mais.
O teu cheiro, o teu sorriso, a tua pele, a tua boca, tudo em você me conquista. É como se eu fosse a agulha da bússola e você o Norte. Há alguma coisa - sim, realmente há alguma coisa - que eu não sei o que é, mas que me faz pensar em você todo o tempo. Mal cheguei em casa e fiquei pensando no teu beijo, e percebi que precisava dele mais uma vez.
Agora eu sei que há tantas coisas que me lembram de ti, que acho que você foi estratégicamente tomando conta de todas as coisas ao meu redor, pra que eu não possa ficar 5 minutos se quer sem pensar no teu rosto.
E eu realmente não fico.

domingo, 16 de maio de 2010

Teleporte...

Eu sento nos cantos e aprecio a solidão, geralmente sem moderação. Não quero ser o motorista da rodada. Antigamente, sofria de solidão por não encontrar ninguém, hoje ela me visita por você não estar aqui. E ela não consegue te substituir, ela não consegue fazer te esquecer. Ela só faz com que eu pense mais, que eu queira mais.
O que você fez, dessa vez, pra me prender desse jeito? Eu que venho tentando ser cuidadoso, agora me vejo inconscientemente gritando o teu nome. Eu que quero me mostrar indiferente, me sinto tão diferente quando longe de você. Como é que você chegou no coração, assim, tão rápido?
Me diz que sente a mesma coisa, que sente a mesma falta, que sente a mesma necessidade. Não quero que minha voz desafine ao dizer que precisa ouvir a tua - que precisa do teu amor.

sábado, 15 de maio de 2010

Preciso de você

... aqui do meu lado. Preciso de você dizendo que eu preciso me cuidar, pra ficar me repreendendo. Pra dizer que é pra mim por um casaco, pra mim largar o copo. Preciso de você pra segurar a minha mão, pra ficar abraçado, pra dizer que não queria ir pra aula.
Preciso de você pra por em prática minha falta de modéstia, minhas estratégias de vida, meus planos cheios de falhas e pra dizer as palavras sem pé nem cabeça que tu já cansaste de ouvir.
Preciso de você aqui do meu lado. Porque é tão triste ver tua foto e não sentir o teu lábio, ler o que escreves e não ouvir tua voz. É tudo triste, é tudo cinza. A solidão voltou a me visitar, e me dá a mão a cada segundo longe de ti. Tenho você, mas agora não tenho.
Preciso de você, pra dizer que amo.

domingo, 9 de maio de 2010

Whiskey in the jar, oh!

Sempre temos tão pouco tempo, tudo resumido em horas, tudo corrido. E eu aqui aproveito o tempo fazendo todas as coisas que você odeia, e milagrosamente tu ainda vem falar comigo. Eu não sei o que o subcosciente quer me dizer ou te dizer com isso, de chegar aos extremos alcóolicos ou de todas as ilegalidades que eu procuro atingir na tua frente, mas acredito que tu me deixa tão à vontade que eu me sinto livre pra ser Bruno.
Tudo mudou, 1 ano e um pouco mais de um mês pra cá, e hoje eu me pergunto por que eu resolvi esperar tanto pra falar contigo, pra tentar mais uma vez. Acho que era o medo de não poder substituir o que tu já sentia por outro alguém, medo de ter que admitir que eu fui idiota em não te querer uma vez e incompetente pra ter denovo.
E eu ainda tenho medo. Tu me faz ter medo, me faz ser inseguro, me faz pensar em ti a semana inteira, me faz esqucer de tudo e pensar no que vai ser do fim de semana, se eu vou poder ver teu rosto ou não. Me faz sentir as borboletas voando no estômago. Me faz sentir que eu tenho alguém pra ser musa das minhas letras, que tu sabe bem, é o melhor que eu posso dar.
Tu é uma em um milhão. Tu sabes que é.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Na frente da tua fuça.


Um dia as coisas todas ao teu redor vão parecer velhas e apagadas, e você não vai mais ter vontade de olhá-las. Um dia você vai se cansar de andar nas mesmas ruas, de dar os mesmos passos.
Um dia você vai enjoar da cara das pessoas. Vai deixar de dar bom dia. Vai parar de olhar as vitrines, e não vai mais querer sentar na mesma praça, no mesmo banco.
Um dia você vai reclamar da vida, e perceber que são as mesmas reclamações batidas. Seu trabalho não te agrada, sua casa está sempre vazia, sua vida está estagnada.
Um dia você vai se ver no espelho e enjoar do seu cabelo, dos seus olhos, do seu rosto, vai enjoar do que vê, pois você vê todo o dia.
Um dia os sorrisos vão custar a aparecer. Você já não aguenta mais a cara mal humorada, mas para mudar a expressão facial, você fica triste.
Um dia você vai crescer, se formar, encontrar alguém legal, achar que está ficando velho, casar, ter filhos, e passar o tempo juntando dinheiro pros estudos das crianças e pras melhorias da casa.
E aí vai perceber que por ter se acomodado, você deixou a vida toda passar. Deixou seus sonhos morrerem, deixou seu grande amor ir embora, deixou o tempo pra trás. Deixou o palco e agora está na platéia.
Um dia você vai perceber que ter uma vida pré-estabelecida é uma merda. Que se foda o planejamento, que se foda a rotina. Que se foda tudo o que eu quiser mandar se foder.
Um dia você chuta o balde, e descobre o que te faz feliz.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Quando mudam as estações

Eu não sou nenhum rei ao qual devem pagar tributos ou a quem devem idolatrar. Não preciso que me paguem impostos, que me vistam e que façam reverências à minha presença. Mas minha personalidade tem uma certa inspiração em antigas majestades, tem um quê pomposo em sua estrutura, recheada de orgulho e exigente de respeito. Sem falar na tirania presente em cada segundo pós decepção.
Creio eu que sou carinhoso, amoroso e outros osos mais que podem ser traduzidos para o lado romântico. Sou cativado facilmente, me deixo levar e me permito fantasiar muitas coisas. Mas isso tudo é preso a um lado cruel e sanguinário, que é frio o tempo que eu me permitir ser. Um lado que bate em corpo morto, que nega esmolas e que não dá o casaco pra namorada. Um lado capaz de chutar crianças.
As vezes você chega a pensar se não está virando um bandido. Eu não sei aonde isso tudo vai chegar, e não estou tão preocupado. Costumo fazer as coisas do meu jeito, e esse é o meu jeito. Quando o verão vai embora, ele leva um tempo pra voltar. Um tempo regado de frio e melancolia, um tempo em que as folhas caem.
Notei o lápis no teu olho, e não sei se foi pra me atingir, consciente ou inconscientemente. Note que o meu está nu, distante, e tudo o que eu faço é de caso pensado.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Childhood

Eu tenho poucas lembranças da minha infância. Lembro que eu me achava ridículo, e de fato era: gordinho, com roupas escrotas, o calção acima do umbigo e as meias eram quase joelheiras. Cabelo semelhante a uma tigela, bochechas grandes e um humor terrível. Lembro que os meninos de classe social mais elevada que depois de alguns anos viriam a ser meus amigos me chamavam carinhosamente de "quadrado".
Eu não convivia bem com derrotas, com o fato de ser contrariado e com decepções rotineiras. Não saía de casa, tinha medo de ficar em algum lugar sem a minha mãe. Passava as tardes brincando no tapete da sala com homenzinhos de pernas quebradas, pois sempre tive o dom de quebrar tudo o que eu gosto.
Passei vários anos sonhando com um computador, e praticamente assombrei minha mãe até ela me dar um. Afinal eu era um produto capitalista nato que adorava ganhar mais e mais e mais. Sempre tive devaneios, sempre me peguei imaginando coisas, falando sozinho, crescendo sozinho. Meu irmão nunca foi o ideal de companheiro que eu tinha, e meu pai não era um super herói - não que eles tenham culpa disso. Minha mãe também tinha que conviver com toda essa bagunça familiar, e eu acho que eu não ajudava tanto.
Eu lembro da revolta, do ódio, da vontade de quebrar tudo, de matar tudo, mas isso nunca saiu do meu mundo de desejos silenciosos, já que sempre fui um bom menino e frequentemente era citado como bom exemplo entre as mães de amiguinhos.
E foi aí que até então odiava o conceito de família percebi do jeito mais desagradável possível que eu era extremamente dependente de uma - abalaram a minha. E depois de um abalo sísmico de grande magnitude, nada é o mesmo. Não que eu possa - ou queira - dizer que esse Bruno morreu, mas ele provavelmente teve uma mudança de personalidade. Ou melhor, ele vem constantemente moldando seu eu lírico até ter o jarro que sempre idealizou.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Depressão pós ressaca

Uma garrafa de uísque pela metade e alguns maços de cigarro jogados pela mesa. Está tudo sujo, tudo jogado. Tudo fora do lugar, como ele sempre gostou. Se reparar bem, no meio de toda a bagunça você vai ver um corpo. Um corpo caído, inconsciente, mas não morto.
Não que não quisesse estar assim, mas os acasos o deixaram vivo. Cada dia mais vivo, cada dia mais convicto de sua vivacidade. Cada dia mais acostumado com o fato de que se tem que estar aqui, vai estar do seu jeito. E então as bebedeiras se tornaram constantes, o pulmão já não responde com o mesmo reflexo de antigamente. É em um ritmo desenfreado de cigarros que começa o dia, e em compassos sinuosos de alcolismo que vai se deitar. Se deitar é modo de dizer, pois cai no primeiro lugar que acha, e ali fica, com a cabeça girando, até o corpo adormecer.
E então o dia amanhece, e se mais uma vez o acaso deixar, vai acordar com a cabeça explodindo, a boca seca, o estômago embolado. E aí recomeça: outro maço pra aliviar a dor, algumas doses pra servirem de xarope, e uma folha de papel pra escrever cartas de suícidio que ninguém vai ler.
Tudo continua bagunçado, e ainda não veio ninguém limpar. E nunca vai vir. Não enquanto o cheiro de fumaça e bebida estiver no seu casaco.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Não é "oi" de cumprimento

Hoje meu cabelo estava sujo e meus olhos estavam nus. A barba pronta pra ser feita, a cara de quem apanhou, inchada de sono. Hoje estava frio. Hoje eu estava feio. Hoje eu sonhei um pouco, tive devaneios, ri alto e não fiquei triste. Hoje senti ciúmes, fiquei irritado, fui um aluno murrinhento e rabisquei cadeias carbônicas em folhas brancas. Calculei o número de eletrons que passaram pela bitola de um fio, e também a intensidade. Fiz fotos nas quais pareço delinquente juvenil, ornamentei meu ouvido mais uma vez e acabei na mesma padaria, na mesma cadeira.
Hoje eu não fiz porra nenhuma. Hoje foi um dia normal, um dia sem graça. Hoje foi mais um daqueles dias em que algumas cenas o tornam divertidos, mas que não ficam pra sempre na memória. Hoje percebi que eu não lido bem com a rotina, com o corriqueiro, o habitual. Quero hoje intenso, hoje memorável - não hoje.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Texas Hold 'Em

Eu queria poder ler seu jogo, apenas no seu olhar. Não sei se devo apostar alto, se pretende fugir, ou se vai aumentar. Teu olhar esconde a mão, não sei se está blefando ou se seu olhar confiante é a certeza de que vai vencer. Por sinal, tento ler sua mente pelos olhos, mas não consigo, você sabe como ninguém bloquear os pensamentos. Me irrita e me cativa simultaneamente. Ver você implica em uma polaridade de sentimentos incontroláveis, diferentes demais para terem a mesma fonte.
Venho tentando definir teu padrão de jogo a tanto tempo, e por mais que tenha descoberto várias características, não deixou de ser uma icognita. Já pensei ter ganho a rodada outras vezes, e acabei perdendo. Estou tentando me adequar aos seus modos, faço jogo duro também. Espero que não possa me ler, que não consiga ver o que está ficando implicito no olhar.
Quero que saiba que vejo essa partida como um desafio. Tenho medo de que abandone tudo e eu perca as fichas que apostei antes do jogo se tornar algo lucrativo. Tenho medo de apostar alto e acabar perdendo. Por isso tento ser indiferente, estou usando de uma técnica particular tua, de não revelar o que se passa por dentro.
Os melhores jogadores de poker são aqueles que não revelam as emoções, mas as vezes vitórias são conquistadas após manobras arriscadas. Enquanto isso, nos mantemos passivos, observando um ao outro, esperando alguém dar pistas de que quer aumentar as apostas.

domingo, 21 de março de 2010

Tipo a China

E pode-se perceber que não está no mesmo plano, seus não olham pra nada que os outros vêem. Quando entra nesse estado a audição fica nula. Parece que a alma se transporta, deixando a capsula corpórea apenas como um disfarce. Como vários travesseiros amontoados embaixo das cobertas, pra fingir que está dormindo.
Está mergulhando demais em seu mundo, seu pequeno autismo. Tudo é conhecido, é da mesma cor. Tudo enjoa, a mistura de cheiros, formas e sabores, já não aguçam a curiosidade. Está se fixando nas coisas nostálgicas, que tanto faziam sentir - ou tirsteza ou alegria - e até essas já enjoaram.
Ou tudo é lembrança ou tudo é repetição. Precisa de novas lembranças, ou novas repetições. Ou renovar as lembranças e inovar as repetições.

domingo, 14 de março de 2010

Luzes, luzes, tunts, tunts.

Multidão, barulho, sexo, drogas, rock n' roll: um conjunto de coisas perturbadoras que trazem paz de espírito aparente a qualquer ser errante. Na verdade, não trazem "paz" ou "tranquilidade", apenas fazem aflorar o lado animalesco presente no coração de cada um. Não que isso não seja bom, mas creio que muito pouca gente leva noites de diversão como algo profundo, algo necessário. Sair é bom, pra se divertir, pra se desligar, é o que pensam. Eu levo um pouco mais a sério: é se jogar em um mundo paralelo que dura apenas algumas horas, mas te prende intensamente e faz com que nessa parcela de momento você se esqueça de tudo.
Qualquer ponto cardeal que tu fixar vai ver rostos diferentes, o que implica em ideias diferentes, em vidas diferentes. Chega a ser cruel. Ninguém conhece ninguém, ninguém se importa com ninguém, mas todos estão ali com o mesmo propósito.
É cruel também o fato de que somos todos presos à prazeres fáceis. Dançar de modo erótico, trocar beijos e carícias com pessoas que conhecemos a alguns segundos, ingerir notórias quantidades alcoólicas e tragar incontáveis rajadas de fumaça (voluntária ou involuntariamente). Somos apenas animais unidos em bando tentando acasalar e usando diversas artimanhas para aflorar nossos instintos bestiais. Vivemos para atingir o descontrole, e adoramos a sensação.
Todo o mundo tem um lado imoral, alguns apenas tem ele mais ativo do que os outros. Eu, por exemplo, sou o exemplo do que não se deve ser, sou um extremismo indecente ambulante. Porém, é esse lado da minha personalidade que me ajuda a aguentar o outro, o sensível e pseudo suicida. Não que eles não se conectem, um é brother do outro.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Vida longa ao Rei, que é quem vai levar as glórias

Pensar e transcrever, pensar no que escrever, pensar em transcrever, pensar para escrever. Isso toma tempo. É um esforço enorme, exercício localizado para neurônios, deve até queimar algumas calorias. E quando se pensa em alguém, se pensa no que falar, se pensa no que este alguém vai pensar, se vai gostar, ou até se vai ler.
Sempre penso na reação, penso no que vão fazer, e me sinto satisfeito ao saber que ocorreu como eu esperava. Afinal, ofereço o que eu sei fazer de melhor, e oferecer seu melhor às pessoas é uma grande prova de gratidão. Penso, sempre penso. Mas não sei se pensam. Escrevo pra ti, e pra ti, e pra ti, e pra ti também, mas não leio nada pra mim. Não, não é uma cobrança, a ninguém. Escrever é entregar o que se passa por trás do crânio, revelar o que se passa dentro do coração. E eu sempre revelo. Difícil é me revelarem coisas, e assim me fazem pensar mais, me condenam à dúvida, que me faz escrever mais, e revelar mais. É um círculo vicioso.
Vicioso, vício, viciante - viciado. Viciado em tantas coisas, apenas remédios para a abstinência do maior deles: sou viciado em carinho, e estão me deixando em uma clínica de reabilitação. Preciso de um novo traficante.

domingo, 7 de março de 2010

Curando soluços

Assuntos inacabados devem ser resolvidos, questão de honra. Escrever e escrever e não falar e não fazer geralmente me deixa deprimido, no balanço de final do dia. Já adiei (ou adiamos) por tanto tempo, que esperar mais ia se tornar homicídio.
Enfim, achei que ia esperar, que ia negar meu convite, mas meu interior desejava que viesse correndo, e que não falasse nada. Parte do desejo foi morto, mas ganhar tudo o que se quer torna as coisas fáceis, então não são coisas pra mim. Tudo tem que ser difícil, tudo tem que fugir do controle.
Não me dê mais sustos dessa magnitude. Jurei que ia falhar mais uma vez, e lembrei que teu nome é minha sina. Mas, conhecendo o que eu conheço de ti, não podia ser diferente, e uma análise fria agora faz com que tudo soe de forma natural.
Por que tu faz isso comigo? Não és a única pessoa que pergunta isso, é recíprocro. Não apenas a pergunta, mas o fato de não saber definir o pronome demonstrativo "isso".

Tem conserto?

Vi esses dias que estava rachando, e isso me deixou preocupado. Tenho comigo todos os dias, não saio sem, já fazia parte do meu corpo. Pelo menos do corpo imaginário. Mas, quebrou. Quebrou, bem no meio, criando dois pedaços praticamente simétricos. Mas, mesmo assim quebrou. O que me refresca a memória dos momentos, agora se quebrou. Não quero ter que interpretar isso como um sinal de que tudo o que essa jóia representa tenha se quebrado, porque eu não posso aceitar. Mas, eu vou lá saber, já se quebrou tantas vezes, que eu nem sei mais como fizemos pra consertar.
Mesmo que quebre, eu vou levar comigo. Ou pelo menos deixar em um lugar previamente forjado para que eu veja diversas vezes ao dia. E pense em ti diversas vezes ao dia. Não sei se tem conserto, mas mesmo se não tiver, vou guardar os pedaços. Mesmo se meu coração quebrar, ainda vai lembrar de você.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Função Fática

Eu vou manter os diálogos normais, até achar que é hora de dizer algo a mais. E certamente vou escolher a hora errada, como eu sempre faço. E então creio que vai dizer que não pode, que não deve, que não quer, que não. Então eu vou olhar com uma cara de compaixão e um sorriso de compreensão, que é o que eu chamo de "cara de derrotado", vou fingir que está tudo bem, que eu já esperava por isso.
Mas é tudo mentira. Eu esperava que você sorrisse, que você me desse espaço para o ataque, que liberasse feromônios de desejo, e que meu instinto capturasse-os. O meu desejo está no ar, te envio por olhares, por gestos, por palavras trocadas. E não sei dizer se você os entende, pode até parecer que sim, e no fim ser não, como normalmente ocorre com meus julgamentos.
Mas, te quero, e não vou descansar até te ter. Espero que eu possa ser rápido e eficiente, e abata a presa com maestria. É intenso, e quero deixar bem claro que é. Tu sabes como eu funciono com algo que me prende a atenção: sempre atiro pra matar. Mas você vem desviando os tiros, e me mostrando que sou incompetente; o que só te torna mais interessante.
Vou manter os diálogos normais, apenas puxando conversa, até porque adoro nossos diálogos como são. Você estava na lista das obsessões, e de momento descartei a primeira. Vou seguir os conselhos de quem já conseguiu meu amor, mas que não pode tirar proveito dele: devo tentar abrir o coração e deixar alguém entrar. Tu és forte candidata, pelo menos para tentar. Nada de errado em emprestá-lo, enquanto a dona não está usando.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Minha mãe mandou eu escolher...

Parar pra pensar é um ato que dói. Sentar e analizar tudo é difícil e nos consome um certo tempo, mas - ao menos pra mim - é algo inevitável.
É perfeitamente possível deixar de encarar a dor, mas tristemente inevitável de sentí-la. E, mais fácil ainda é maximizá-la. Engrandecer os problemas, fazer com que tudo soe errado, tudo soe triste; sei muito bem fazer isso. Digo que aprendi a lidar com a dor minha, mas ainda não aprendi bem.
Assim como não aprendi a lidar com as alegrias, com as emoções, não aprendi a lidar comigo mesmo tão bem assim. Não aprendi a lidar com escolhas, apesar de sempre estar confiante nelas, e estas geralmente se mostrarem erradas.
Mas, os ponteiros do relógio e os dias do calendário são muito mais sábios que seres pensantes de duas pernas, assim como os olhos são muito mais instrutivos que a intuição. Em duas noites, em breves minutos, meus olhos me fizeram repensar tudo o que eu vinha sentindo. E eu já sabia que já não fazia sentido, mas escolhi - inconsequentemente - desejar algo de maneira muito forte, mas sem fazer nada. E vi que isso não me pertence. Também havia me conformado que não podia ter algo do jeito que eu queria, mesmo tendo obtido por breves momentos. Mas meus olhos me fizeram ver uma cena tão triste, que me perturbou os sentidos por algumas horas, e outra tão explêndida que iluminou meus dias posteriores.
Enfim, há semelhanças entre pequenos amores. Podem me dizer que eu não sei quem eu amo, mas a verdade é que já aceitei algo que era difícil de aceitar: não posso ter esses amores, mas não me conformo em não ter o que eu quero. E é aí que vale a pena esperar pra quebrar a cara, porque eu quebro com gosto, porque eu quebro como todos sabem que eu faria. Acho que faço de propósito, gosto de quem não devia, porque é gostoso gostar assim.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Do meu jeito

Olhares de desaprovação são tão casuais como respirar. É estranho, te olharem desse jeito, com repulsa; o modo com que fixam o olhar em você, compressando a pupila e tendo como acompanhamento um par de lábios cerrados parece revelar cada palavra desgostosa que se passa pela cabeça alheia.
E, é estranho, porque na prática você não deu motivo nenhum a pessoa nenhuma que possa traduzir tanto ódio aparente. A não ser, é claro, que você atingiu em cheio uma das maiores fortalezas da sociedade humana, e, a meu ver, a mais inconveniente delas: a normalidade.
Ninguém tem o direito de censurar meu jeito de me vestir, meu jeito de cortar o cabelo, o que eu passo no meu olho e o tamanho das argolas que uso na orelha, e essa é a parte divertida. É divetido ver todos olhando torto porque você está fora dos padrões. É realmente divertido causar essa "poluição visual". Tantas vezes me disseram que é horrível, vergonhoso, homossexual e que não entendem porque eu faço isso. Mas é que ele me disse que eu fico lindo. O meu coração.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Twilight

O já esperado silêncio o qual custara a se acostumar. Uma melodia fúnebre não seria tão plausível ao momento quanto o maldito silêncio era. Nem o ouvido mais treinado poderia ouvir um ruído se quer. E essa falta de sons fundia-se perfeitamente com a ausência de luz, criando a mais pura sensação de solidão.
Mas era por esse silêncio que fazia o que devia ser feito. Não era mais uma questão de sobrevivência, já não sabia o que era sobreviver a muito tempo. Era uma questão de desejo, sempre foi. Os últimos vestígios de seu pecado escorriam pelos lábios, o que dava a sensação de que havia se esbaldado em um nectar proíbido. Já não havia mais nada na fonte, acabara de virar um compulsivo. Mas, nada mais se passava em sua cabeça após a sua droga tocar sua boca e entrar em contato com o seu organismo. Tudo ao seu redor se evaporava, e a sensação de euforia era tremenda para ser descrita. Não sentia dores. Pra falar a verdade, não sentia nada. Era mais potente do que mil orgasmos, era o maior prazer que conhecia. Era a única coisa que fazia valer a pena sua ridícula existência.
O escuro e o silêncio acasalavam-se em tão perfeita harmonia, que escondiam o crime hediondo ocorrido no local. Apenas mais um corpo sem vida, em uma rua qualquer. Apenas mais uma vítima, como qualquer outra. Apenas mais uma forma de se manter o vício, que já durava algumas centenas de anos, e que apenas aumentava. Sabia que precisava de mais sangue, para evitar as dores da abstinência.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Dia dos Pais

Do tanto de vezes que eu reclamo por me esforçar sem reconhecerem, pode parecer até tento ser um mártir. Muito obrigado, eu passo. Venho mergulhado em um drama familiar a uns 4 ou 5 anos, e por mais que ele possa parecer ter desaparecido, ele apenas melhora nuns dias e piora - ou melhor, volta ao normal - nos outros.
Um senhor de quase 60 anos, depressivo, que mora sozinho em uma casa pobre, e que ainda não venceu os traumas de um passado recente. Tem varizes, já fez diversas cirurgias, e o problema nunca se resolve. Tem dois filhos, um com síndrome de asperguer, que desde pequeno foi responsabilidade do filho maior. Filho maior, este, que tenta, pelo menos uma vez por semana, caminhar 15 ou 20 minutos pra ver como o pai está. Filho este, que a única coisa que ganha do pai são malditos 50 reais destinados à mensalidade da sua aula de violão. A pensão foi adiantada à ex-mulher, que passa por constantes crises financeiras. Mulher essa que é a culpada de toda a desgraça na sua vida. Pois se não fosse essa mulher, ele não estaria na situação em que está, não estaria sofrendo como um cachorro, jogado no mundo. Se não fosse ela, não teria essa desculpa que eu tenho que ouvir pelo menos uma vez por mês nos últimos 4 anos.
Quando eu era menor, via os filmes americanos nos quais existe uma família perfeita, onde o pai brinca com os filhos, joga futebol com eles, vai torcer por eles nas competições, sai pra passear, dentre outras atividades de realacionamento entre pais e filhos. O melhor relacionamento que eu tive com o meu pai foi passar 2 dias na casa antiga dele, ir com ele pra cidade vizinha comprar minha guitarra (sim, foi ele quem me deu) e almoçar com ele no Natal. Se você somar, talvez eu tenha ganho uns 3 mil reais dele, desde a separação. Mas amor, carinho, compreensão... Isso eu nunca recebi do meu pai. Ele nunca foi me ver jogar futsal, quando eu tinha meus 10 anos. Ele nunca me viu tocando, em nenhum lugar. Ele nunca admitiu eu gostar de um som musical que ele não suporta. Ele nunca pediu o que eu queria ser quando crescer, só sugeriu que eu fosse advogado.
Ele nem faz ideia das coisas que eu escrevo, das coisas que eu canto, da maldita facilidade que eu tinha quando fazia teatro, que tanto elogiaram. Mas, meu pai... Ele nunca, nunca me disse "filho, eu tenho orgulho de você, você foi muito bem".
Costumo dizer que eu só pedi pra Deus uma família, e eu acho que ele me deu uma que tinham devolvido, com defeito. Mas, graças a Ele, eu ganhei um pai que me serve de exemplo, exemplo daquilo que eu nunca quero ser. E, tendo apenas coisas pra reclamar, eu tenho medo de estar virando exatamente o que ele é. Pelo menos nos próxmos dias, eu não quero vê-lo nunca mais.