quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Bolsa de Valores


Era um menininho feliz, serelepe e saltitante. Nunca havia dado problemas para sua mãe. Ia para a escola de manhã, fazia natação e judô à tarde, e tinha inglês nas sextas feiras. Queria ser médico, dizia que ia ganhar muito dinheiro. Na verdade, acho que é porque seus pais eram médicos, e já ganhavam muito dinheiro. Vivia num mundo de ouro, comia da melhor comida, vestia as melhores roupas, recebia uma mesada que superava o salário de muitas pessoas, mas ele nem sabia dessa coisa de valores, não os valores monetários.
E como é característico das vidas, a vida dele também foi passando, e ele foi crescendo. E cresceu rodeado dos maiores luxos possíveis, coisas que muita gente leva a vida inteira pra alcançar, e não alcança. Tinha a menina que quisesse, era o mais popular do colégio; aos 18 ganhou um carro, mais caro do que todo o patrimônio de várias famílias juntas. Mas, odiava matemática, não sabia dessa coisa de valores, e nem queria pensar em economia.
Na verdade, não queria pensar nem mais em medicina. Sua vida era boa do jeito que estava, não precisava se esforçar pra nada, tinha tudo o que muitos sonharam em ter, sem ter movido um dedo nesses 18 anos de existência. Além disso, tinha uma herança garantida, graças ao grande sucesso da carreira médica dos pais, que ganharam muito dinheiro, muito mesmo, o menino não tinha nem sequer noção do valor real desse trabalho. Afinal, não sabia o que eram valores. Era um merda.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

A metade da foto que está faltando



Passaremos a vida inteira sofrendo por paixão, afinal, vamos nos apaixonar inúmeras vezes. Vamos nos entregar de braços abertos tantas vezes que um dia vamos perder a conta. Vamos derramar lágrimas incontáveis, fazer escândalos memoráveis, viveremos dias de uma incessável turbulência a qual vamos chamar de amor.
Mas esse sentimento desenfreado, essa obsessão assassina da qual vamos sofrer, não passa de uma paixão. Uma paixão louca e descontrolada, que é mais do que um desejo carnal, é algo no qual você se apega muito a alguém, que não pode se ver sem este. É um sentimento doentio, e que pode durar por muito tempo. E que pode enganar também.
E eu insisto em dizer que esse sentimento forte não é amor, e sim paixão. Porque amor, este não é forte. Amor não é intenso, muito pelo contrário. Amor vai te deixar calmo, não eufórico. Amor se traduz em olhares, não em beijos fogosos. Amor é quando as suas brigas terminam em tristeza, e não em ódio. Amor é quando o simples fato de estar perto de alguém te trás uma paz inexplicável, e não uma vontade incrível de agarrar a sua paixão.
E ao contrário das paixões, amor você sentirá uma vez só na vida. Talvez nem sinta. Talvez nem saiba que sentiu. Talvez não sabia na hora que está amando, até porque você pode amar verdadeiramente alguém que no momento é sua paixão. Mas um dia vai ver seu amor andando na sua frente, e vai sentir as borboletas na sua barriga se mechendo. E isso só se sente com um alguém, a vida toda. Faça o possível então para estar bem junto do seu amor, afinal, é a melhor coisa que você irá sentir.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Embaixo do tapete, gire a maçaneta com força


A porta vai estar sempre aberta, isso eu posso garantir. Mesmo que eu minta que está trancada, que eu escondi as chaves. Mas é que as vezes eu tenho vontade de trancar a casa pra sempre, não deixar ninguém entrar.
Já foram tantas pessoas que entraram, e nenhuma gostou do lugar. Nenhuma quis ficar pra sempre, estabelecer laços, criar raizes. Nenhuma se importou com o lugar o suficiente para melhorá-lo, algumas até depredaram o patrimônio, mas não pagaram por ele.
Isso me intriga. O aluguel sempre foi barato, parece ser em uma boa vizinhança, trás muito conforto. Acho que esse é o problema: as pessoas se apegam aos lares mais carentes, os que não dispõe de proteção nenhuma, mas dá acesso a inúmeras diversões. Preferem um cubículo na praia do que um grande casarão no campo.
Hoje dizem que se ouvem barulhos na casa, as janelas estão quebradas e a porta emperra. O assoalho está esburacado, as paredes rachadas. E dizem que há fantasmas, fantasmas de um passado não muito distante, que volta e meia tocam nas lembranças e fazem com que a casa quase venha ao chão.
Mas se você entrar, vai ver que na prateleira existem fotos dos antigos moradores, existem momentos registrados do s períodos que passaram lá. E talvéz vai encontrar várias fotos das mesmas pessoas. Afinal, a porta está sempre aberta, isso eu posso garantir. Mas não é qualquer um que pode entrar - é o dono dela que escolhe quem será o inquilino. E ele espera ansioso por um que entre e se sinta em casa.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A Menina Verde


Adoro acordar no verão, quando não está chovendo. Adoro olhar pra cima e ver a cor do céu. Sim, do céu. Nos poucos dias em que vejo o dia nascendo, contemplo uma mistura de cores que eu tenho como a definição de beleza. Amo do fundo do meu coração a coloração que o céu tem no início da manhã e no final da tarde, um azul quase roxo, diferente do azul escuro que precede o anoitecer e antecede o sol nascente, um azul que não é gêmeo do azul do meio dia. Coinscidentemente amo estes azuis, que me trazem diversas emoções, que me lembram de milhares de cores. Que mechem tanto comigo que me deixam feliz.
Quando eu era menor, odiava azul. Azul escuro me lembrava de mar, mar me lembra de solidão, solidão me lembra de Bruno. E Bruno me lembra de tantas coisas ruins. Coisas ruins que as vezes encobrem as boas, mas as boas são tão lindas, que me lembram do azul que hoje eu tanto amo. E eu amo porque nos dias em que eu vejo o azul do céu, o amarelo do Sol fica mais brilhante, o verde das árvores mais chamativo, até o cinza da cidade de pedra fica mais colorido, e meu mundo fica mais feliz. Logo, azul me lembra de coisas boas. Azul que me faz ver alegria, azul que me diz que não posso ser triste, que devo esquecer os problemas. Azul que não me entende, mas que me explica que a felicidade é o melhor remédio. Que lembra do céu, que me lembra de cor, que me lembra de vida. E aí, tudo azul?

sábado, 12 de setembro de 2009

Cansei!


Cansei. Cansei de tentar me esforçar pra ver todo mundo bem, cansei de tentar ajudar todo o mundo, de tentar ser um amigo legal, alguém que dá pra confiar. Cansei de ficar reclamando da mesma coisa, de querer cobrar pelos meus esforços, porque eu cansei de esperar e ninguém devolver. Cansei de pensar demais nos outros, e de menos em mim. Cansei de querer que as coisas dêem certo, porque faz tempo que eu percebi que elas não dão. Cansei de toda em que eu tento fazer as coisas do meu jeito, ou criticar o que eu não acho certo, levar milhares de tapas na cara. Cansei. Cansei também de saber que daqui uns dias vai ser a mesma merda, igual todas as outras vezes em que eu cansei antes.
A porra da vida só é colorida pra quem vive numa mentira. Viver é uma merda, acredite. Mas eu sou tão chato, tão orgulhoso, tão filho da puta, que eu vou continuar vivendo essa merda, e não vou me dar por vencido. Cansei de me cansar de viver.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A Água, o Frio, o Vento


Andando na chuva, fiquei observando os pingos caírem, e intrigado com a calmaria que se sucede em um dia chuvoso. Não ouço muitos ruídos, apenas os pingos caindo e o farfalhar das folhas quando o vento sopra. Tudo tão sozinho.
Chuva lembra lágrimas, pois estas também caem, também podem ocorrer numa calma aparente, com um silêncio mórbido que sufoca nossas angústias. Choro pode ser também uma tempestade, com gritos que liberam toda a ira enlatada em nosso corpo.
É a calmaria da chuva que me deixa fascinado. Não sei se é possível, mas tem dias que adoro a chuva, e tem dias em que a odeio. Creio que é porque preciso de paz interior, preciso perder a turbulência emocional, e apenas dias de chuva propiciam isso, há dias em que adoro ver isso estampado na minha face, em outros detesto, por saber que a natureza está simulando algo que não tenho.
Chuva, enfim, é como um atestado de melancolia. Por mais triste que eu insista em ser, detesto ver o mundo colorido de cinza. Amo dias ensolarados, nos quais eu vejo uma infinidade de cores, que me invadem de alegria. Por que será que me sinto fora de mim quando chove, se é uma alusão perfeita ao meu interior? Talvéz seja porque a mentira colorida é muito mais feliz que as cores neutras que vem com a chuva, e como o amarelo do sol que vem radiante por trás das nuvens, ainda tenho uma fagulha de esperança no meu coração chuvoso.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

21:00


Escuridão me lembra de você. Me lembra dos teus cabelos, dos teus olhos, mantos negros impenetráveis, que me lembram da noite. Noite que me lembra de solidão, de tristeza, de frieza. E estes sentimentos me lembram de você. E, eu juro que não quero lembrar de você como uma estátua, uma estátua negra que não sente a emoção dos observadores, uma estátua para a qual eu já redigi centenas de artigos e imaginei milhares de releituras. Não quero lembrar de ti eternamente como o amor que eu nunca consegui.
Escuridão me lembra de você. Mas como a noite começa, tem de terminar, e estou ansioso pelo dia em que olharei pra você e lembrarei do amanhecer.

domingo, 6 de setembro de 2009

B de Blues.


Ficar por alguns instantes ao teu lado poderia ser a melhor coisa do mundo, poderia trazer as melhores sensações possíveis, mas não trás. Não trás nada de bom que eu possa guardar. Você tem a incrível habilidade de me destruir em pedaços, com simples palavras, ou com simples olhares. Olhares estes que você não me dá, e por isso machucam tanto.
Queria que sentimentos fossem traduzidos em respostas, mas a melhor forma de contá-los é com perguntas. Por que é assim? Por que justo você? Por que eu insisto em entregar meu coração pra quem não quer? Por que não me convenço de que não adianta, é caso perdido? Por que eu ainda amo?
E o pior dessas perguntas é que tenho as respostas, guardadas em mim, e são mais dolorosas que qualquer olhar que tenha negado, qualquer ofensa que tenha feito. Nada dói mais do que a verdade, e é por isso que continuo mentindo pra mim que eu devo ter esperanças.
É assim porque eu escolho ser assim. É você porque é a menina mais interessante, a mais encantadora, a musa perfeita pras minhas letras. Insisto em entregar meu coração pra quem não quer porque parece que é assim que ele gosta, de tudo sofrido. Não me convenço porque a minha parte infantil ainda sonha com amores inálcançáveis. E ainda amo, porque por mais que eu tenha sofrido, por mais que eu tenha apanhado, nada substitui a satisfação de amar alguém.
Eu não vou mentir que ficar alguns instantes ao teu lado trás um prazer imenso, uma alegria me invade. Só que infelizmente, cada vez que você está do meu lado eu me sinto mais distante, mais insignificante, nulo. Só eu sei o que eu queria te dizer, só eu sei a força do que eu estou sentindo, só eu sei a profundidade deste lago que eu estou batizando de amor, só eu sei o quanto eu tenho pra chorar, mas estas lágrimas estão se recusando a cair.
E ao pensar em chorar me sinto tão fraco... Imagine o que faz da minha fraqueza, quando no meu peito estão engasgadas lágrimas que formariam um oceano, e afogam as palavras que eu reluto em dizer e você reluta em escutar: eu te amo.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Para de fazer careta e come!



Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama. Não me ama.

Não que eu não queira, mas não precisa. O espelho me contou que sou mais forte do que uma rejeição, mais bonito que um desamparo e muito, mas muito melhor do que um dia triste a mais no meu calendário.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Kinder Ovo


Sempre disse que odeio surpresas, mas sempre rezava pra aparecer alguma. Acho que no fundo, todos esperamos por pequenos fatos inesperados que nos tragam um pouco de alegria, nem que por poucos segundos. Quando as coisas não vão bem, desligamos todas as luzes e olhamos apenas para a frente. O que vem do lado não importa, estamos preocupados demais com nossa falta de felicidade. E é aí que vem a parte boa das surpresas. Como um homem cheio de falta de esperança, nunca acredito que num momento inoportuno, receberei uma boa nova, perceberei que a vida não gira em torno de apenas uma pessoa. Mas, a vida realmente não gira em torno de apenas uma pessoa. Fora da nossa linha de visão, há alguém pedindo atenção, mas seus olhos não estão alcançando. E quando finalmente observam, você percebe que nem tudo está perdido.
Triste saber que eu também sou alguém fora do campo de visão de outros olhos. Feliz saber que sempre há alguém querendo estar no nosso.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Leito Vazio


Horas embaixo de um sol escaldante, minutos passados embaixo de chuva. E mesmo assim continuo a esperar. Por mais que demore, não posso sair do lugar, não posso perder a locomoção ou nada me levará onde quero. Por mais que eu deteste o ambiente onde me meti, por mais que odeie o ar que tenho que respirar aqui, por mais que seja desconfortável, ainda assim irei esperar. Sei que está sem lotação, ninguém procura essa linha, então de alguma forma eu posso preencher esse vazio. Um dia o ônibus chega, e eu espero poder entrar. A não ser que o motorista, acostumado com a rotina sem passageiros, não consiga me ver fazendo sinal.