terça-feira, 27 de outubro de 2009

Letras Miudas


Segure na minha mão, te prometo que tudo vai dar certo. Sei como se sente, acredite se quiser. Sei no que você fica pensando. Sei que tem medo de morrer sozinho, medo de que ninguém o escute. Sei que quem você queria que te escutasse vai te dar de ombros, e que você se fecha para os outros que o escutam. Sei que dentro de você está tudo quebrado, e que ninguém consegue colar os cacos. Sei que você pensa nisso que eu estou dizendo todas as noites, antes de dormir, e te dá vontade de chorar. Te dá muita vontade de chorar, mas as lágrimas não querem vir. E sempre que pensa em chorar, se acha fraco, e então tudo piora. Sei que já não vê sentido em nada do que faz, que tudo ficou frio, e você já nem se entende. Sei que fica pensando "como é que um estranho sabe de tudo o que estou passando?". Sei também que passa os dias sonhando com alguém que vá te entender, te dizer palavras de conforto, te dar um abraço apertado, não importa o preço que isso custe. Não importa que o preço seja você.
Fraco do jeito que está, se venderia por um afago, por palavras de força, por um ombro. Se jogaria nos braços da primeira pessoa que quisesse te levar embora. Eu estou aqui pra te levar embora, segure minha mão, tudo vai dar certo.
Não preciso de contratos pra ter você na minha mão - sei que vai querer segurá-la no fim dos tempos, pois eu te socorri, eu amparei quando precisou. O Diabo é muito amável quando quer a sua alma.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Unidunitê


Tinha duas escolhas: ou pular, ou dar meia volta. Esperara tanto por isso, e agora não sabia o que fazer. Todos seus amigos estavam pulando, e ele estava louco pra pular também. Havia falado tanto disso, sonhado tanto sobre como ia fazer, e agora estava ali, a um passo do seu desejo, e não sabia se queria ir.
Começou a chorar. Era novo demais pra tomar uma decisão daquelas, não sabia lidar com esse tipo de pressão. Queria sua mãe, mas não disse isso a ninguém. Na verdade, ele chorava baixinho, quase ninguém percebia. Mas ele percebia, e isso era suficiente pra fazer com que se decepcionasse. Tinha vergonha de si, vergonha de ter medo. Vergonha de ser fraco.
Olhou para a piscina mais uma vez, ainda estava amedrontado. Tomou a decisão de última hora, fechou os olhos para esconder a visão do ato, e pulou. Fez tudo as escuras, mas sentiu na pele a adrenalina. Então era isso, era diferente, era único.
Agora tinha duas escolhas. Ou nadava, ou morria afogado. Obviamente, deixaria a água entrar - já tinha realizado seu desejo. Mas a sensação de pular na piscina foi tão boa, que ele viveu 60 anos procurando sentir aquela adrenalina denovo. Isso que deu força para ele viver.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

8.760 horas


Fui dormir num dia pensando que tudo o que eu vivi estava se repetindo. Acordei no outro tentando falar tudo o que estava me incomodando. Sim, mais uma vez com coisas pra falar, mania de segurar tudo. É errado, eu sei, mas precisava descontar. Me machucaste tanto que eu preciso tirar um pedaço de ti também, pra parecer justo. Ainda dói pra mim, te ver revive tudo. É o mesmo fantasma, o tempo inteiro. E eu, bobo, ia acreditar mais uma vez, mas, mais uma vez, soube o que tu quiseste esconder.
Continua teu caminho, vou deixar o meu fora dele, e dessa vez espero ser por muito tempo. Tanto tempo que eu já não saiba percorrer tua estrada novamente. Os buracos que deixou na minha, ainda vão estar lá, mas com asfalto novo, estarão tapados. Infelizmente, remendos fecham o furo, mas não deixam a pele lisa.
Não acredito que pensei que ia mudar, que tinha mudado. Por mais que se esforce, nunca irá. A essência é sempre a mesma - já estou enjoado de maçã.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Conhecido meu


Uma lista de execução com infinitas músicas melancólicas, melodias tristes com letras de desilusão, virou rotina para ele nesses últimos tempos. Não apenas ao ouvir, ao tentar se espressar também - linhas cada vez mais mórbidas, anseios tão horripilantes, uma onda incurável de depressão.
E ele não entendia, já que tinha feito tantas coisas nos últimos dias. Tinha feito tudo o que queria, os desejos aparentes estavam saciados. Provou da carne, bebia do vinho, tinha ótimos amigos e chances pra rir. Apenas faltava dinheiro, mas já fazia tempo que sabia que isso era segundo plano. Já fazia tanto tempo que tudo estava em segundo plano, até mesmo ele.
Tão comum olhar no espelho e não gostar do que vê. Mas ele não gostava do que via por dentro. Tinha vontade de chorar, de chorar muito, mas tudo o que estava preso não queria sair. E ele até tentou soltar tudo, assim como se regurgita o álcool para sarar a embriaguez, algumas lágrimas curariam a tristeza. E nem essas respondiam agora.
Queria tanto saber porque é que ele nunca está satisfeito, sempre tem mais pra chorar, sempre tem mais pra sofrer. Acho que dias de alegria o deixam mais triste, e os dias de solidão o completam melhor. É ele quem busca a solidão cada dia mais, pra ter um motivo pra reclamar que está sozinho, pra ter mais o que chorar. No fundo, no fundo, é culpa dele.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mas quando eu criar coragem...


... pra te dizer que eu te amo, olhando no teu olho, você vai ter uma ideia do que realmente se passa dentro de mim. Quando eu criar coragem, não vou precisar mais de ópio pra fazer juras pra ti. Não vou precisar mais me esconder, não vou mais dar indiretas. Não vou mais precisar imbutir mensagens subliminares em toda a ação que eu faço. Quando eu criar coragem, vai perceber que por mais indeciso que meu coração seja, ele bate mais forte por você. Vai perceber que em cada veia do meu corpo corre um pouco de sentimento. Você vai ver que todas as minhas tentativas frustradas de chamar atenção tinham um motivo. Também vai entender que todas as cagadas que já fiz em relação a ti eram movidas por boas intensões, que todos os olhares eram carregados de esperança, e que todas as vezes que me mantive em silêncio, era pra pensar em como você reagiria se eu não fosse o covarde que sou por natureza.
Mas, quando eu criar coragem... talvez caia por terra toda a ilusão de ter você, desapareça de vez a esperança do teu beijo, assim como a utopia de ficarmos juntos. Mas, só de poder demonstrar o que eu estou sentindo com palavras faladas, e não como estas escritas, terá um preço extraordinário pra mim.
Juro - pra mim mesmo - que vou criar coragem pra dizer isso na tua cara.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Atestado de Desistência


E tantas vezes eu tentei ser sincero, tentei ser importante, tentei te conquistar, e mesmo assim não consegui. Tantas vezes quis acreditar, tantas vezes acabei me iludindo, e só estou pagando agora. Pagando pela audácia de acreditar denovo, de dar forças pra mentira que eu sempre critiquei. Nunca devia ter deixado me levar, nunca devia ter precisado tanto de você. Deveria ter mentido mais, ou negado a verdade. Deveria ter fingido que não precisava. Deveria ter me negado a te levar pra casa, afinal eu tava dormindo. Poderia ter dito que a tua família complica tudo.
Já fazem vários dias que prometi não escrever mais nada pra ti, e espero que essa seja a última vez. A última que ainda vou admitir ter sido pra ti. Tenho inveja por não ter uma música que lembre de mim e te tenha feito chorar. Tenho inveja dele, já que ele não mostrou nada, e te teve nos pés. Enfim sei porque azul é a cor da tristeza.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dead, Jail or Rock n' Roll


Aceleração máxima, ruídos incessantes, tudo passa muito rápido e mesmo assim se pode ver tudo. 5 segundos são necessários pra passar uma hora. Cada molécula de oxigênio é sentida pelo corpo e nenhuma gota de suor é despercebida. Toda a excitação possível está circulando nas veias, todo o peso do mundo nas costas, toda a pressão do lugar cai sobre você, reduzindo seu volume a quase nada. Mas por menor que seja, ainda existe volume, e ainda existe força dentro de ti. Cada músculo do teu corpo se esforça, o instinto animal foca todas as atenções para esse objetivo, que hoje é sua caçada. Vida ou morte, sucesso ou fracasso. De braços amarrados, e os outros estão batendo. Tudo à sua volta é rival, até Deus é um concorrente. Mas o peso do antes não se compara à leveza do depois. É o único lugar no qual me sinto em casa, acho até que um dia vou morar em um palco.