... a tristeza. E também a insatisfação. Porra, eu saí de casa querendo chutar as coisas, saí definitivamente puto. A minha vontade de sentar e chorar era enorme, mas é algo que eu não consigo fazer tão facilmente. Essa tua dificuldade em chutar o balde é a minha dificuldade de enchê-lo de lágrimas. Não sai assim. Eu não consigo adivinhar o que tu sentes e muito menos o que tu pensas. Nunca entendo se é algo que eu disse, que eu fiz, que te desagradou, pois nunca deixa tudo claro pra mim. E é isso que me derruba, não quero ter no meu currículo outros erros que te deixaram magoada. Juro que tento ser o mais compreensível possível, e sei que não sou o tipo de cara que é simples de entender, e menos ainda fácil de se aceitar, mas não podes negar que eu tento. Dos meus diversos defeitos, o orgulho sempre foi um dos maiores traços da personalidade, e não vai ser fácil vencê-lo. O que eu não quero é sair de casa pensando "puta que pariu, o que é que irritou ela tanto?", ou perguntando ao vento se fui eu quem te deixou assim, e se sim, o que foi que fez isso. Já está tudo tão frio, tão morto sem você, que quando o minimo de harmonia some, parece que a esperança se vai pra sempre. E o tabaco e o álcool vão vir, mais fortes do que tudo. Primeiro porque com eles vêm o retrato de como está o espírito: sujo, sem equilíbrio, tropeço e cheio de nauseas. Segundo porque é o que detestas. E é assim que eu tento dizer que estou abatido, irritando os outros. E, mais uma vez, não fiquei embriagado, o que vem se tornando comum, as doses de bebida insistem em me manter sóbrio. E o que me deixa mais depressivo é que não sei com exatidão o dia em que vou te ver, e que hoje a noite, vou dormir sozinho, sem você do meu lado; vou sonhar contigo, e vou estar louco pra chorar todas as lágrimas que estão trancadas atrás dos olhos. Eu preciso pegar o telefone e ouvir tua voz, mas sei que não vai atender, porque é madrugada e tens de acordar cedo. Sei que não vai vir. Sei que tudo parece querer soar mais trágico do que realmente é. E consegue.
Há coisas que são muito belas apenas em uma fração de segundo, que mudam dimensões em uma parcela de tempo, tão rápidas como uma explosão.
terça-feira, 29 de junho de 2010
sábado, 26 de junho de 2010
Os 63 primeiros dias
O espelho não tem mais graça ao me refletir sozinho. Tua imagem já é parte indispensável do semblante meu. Isso explica o amanhecer mal humorado, pois o reflexo matinal não te mostra. E, como adepto dos pecados capitais, volto a perceber tua ausência através da minha vaidade, que não me tira da frente do espelho. Não apenas este, todo o cenário à minha volta está decorado com lembranças. E eu me agarro nas às fotos, a antigos versos. Me perco nas palavras, nas reclamações, em todas as queixas de mau comportamento, em todas as vezes que eu ri e você amarrou a cara. Você faz com que qualquer outra pareça chata e extremamente imperfeita, e sei que nenhuma delas substituiria o gosto do teu beijo ou os arrepios que tenho ao tocar teu corpo. Você conseguiu fazer aquele que não via a hora de o ano acabar ter medo do fim deste, pois o temor de uma despedida me tira o sono. Longe de ti eu não aguento; ultimamente está difícil de aguentar as lágrimas. Porque insistem em nos manter distantes, meu bem?
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Meu verão
O inverno vem, e todo o ano você se pergunta se haverá alguém pra ficar abraçado. Mais do que o frio que rasga a pele, é a gélida sensação de abandono que congela o coração. Você olha para os lados e há casais de mãos dadas, há namorados tomando chocolate quente. Nas manhãs mais frias, os pares não acordam sozinhos, mas sim entrelaçados, ambos os corpos se esquentando. Mas você não, você acorda sozinho, com frio, com o peito gelado e abandonado. Você gosta de estar agasalhado, mas odeia todas as lembranças ruins que o inverno te traz. As lembranças de estar sempre sozinho, sempre esperando. E então os dias nublados e cinzentos tem a mesma cor do seu espírito, que não sabe como se alegrar e está até mais frio que o próprio inverno. Nessas horas você acha que nunca, nada na vida, vai ser pior que isso. Aí vem o tempo e te contraria. Aparece uma pessoa que você ama, e ela também te ama, e você não vê a hora de andar de mãos dadas e de tomar chocolate quente. Não vê a hora de abraçar, de dormir junto e acordar entrelaçado. Porém, não pode. Outro vilão, chamado distância, insiste em te deixar acordando sozinho e praticamente congelado. E então tudo piora, você sabe que tem alguém, mas não pode ver a todo o momento.
Há dias porém, em que toda a saudade parece ter valido a pena, e você vê o alguém amado. E você sente que, por algumas horas, o inverno rigoroso vai embora. Você sabe que o gelo vai voltar muito mais forte depois, mas que durante essa convenção de minutos, é verão.
Há dias porém, em que toda a saudade parece ter valido a pena, e você vê o alguém amado. E você sente que, por algumas horas, o inverno rigoroso vai embora. Você sabe que o gelo vai voltar muito mais forte depois, mas que durante essa convenção de minutos, é verão.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Bram Stoker
As luzes já haviam se acendido, mas mesmo assim a rua estava escura. E além de escura, estava silenciosa e deserta, fazendo com que o som de cada passo parecesse amplificado. Engraçado como tudo sempre fica escuro e morbidamente quieto depois que a noite se instala.
Lucy estava apressada, queria chegar em casa logo. Acabara se atrasando no trabalho e precisou ligar para a babá, pedindo que ela esperasse mais alguns minutos antes de sair. Pobre Anne, passava o dia todo com a babá, enquanto a mãe trabalhava no escritório do sr. Morrinson. Ás vezes Lucy pensava que a filha estava crescendo depressa, mas ela não estava lá para observar.
Se o pai de Anne tivesse se importado, tudo seria diferente. Os 200 dólares que mandava no fim do mes mal pagavam a babá. Lucy tinha de ser mãe, pai e ainda mentora financeira da casa. Entre cuidar do trabalho e do lar, acabava sem tempo para a filhinha. Acabava sem tempo para ela mesma.
Ajeitou os braços mais próximos do corpo para se proteger do vento frio. A visão periférica detectou uma espécie de movimento, e Lucy notou alguém do outro lado da rua. Não deu importância. Passou a lembrar dos tempos da faculdade, onde era jovem e bela, e as coisas pareciam maravilhosas. Lucy era loira, de rosto simétrico, com uma incrivel beleza para uma mulher na casa dos 28 anos. Mas não se comparava aos tempos de quando fora a garota mais irresistível do campus. Era extremamente bonita e usava isso a seu favor. Então veio Anne...
Lucy balançou a cabeça. Não podia pensar isso, não podia atribuir culpa nenhuma à sua criança. Ouviu passos ligeiramente atrás dela, e virou a cabeça para ver quem era. A pessoa que estava do outro lado da rua havia atravessado. Lucy percebeu que era um sujeito de cabelos bagunçados, extramamente claros, beirando o branco. Parecia ter cerca de 1,80, de corpo esbelto e ombros largos. Vestia um sobretudo preto, e um cachecol também preto dançava ao vento. Olhando melhor, percebeu que toda a vestimenta era preta. Mas o que mais chamava a atenção eram seus olhos: de um azul muito intenso, fitavam diretamente os olhos de Lucy. Pareciam perigosos, e, ao mesmo tempo, irresistíveis.
Lucy voltou o rosto para a frente, tentando entender o que havia de tão estranho com aqueles olhos, quando ouviu uma voz fria, porém amistosa:
- Normalmente recomendam às donzelas que não andem sozinhas depois do anoitecer.
Lucy virou-se, rindo de nervosismo, e respondeu:
- Eu sei.
- Frio, não? - perguntou o homem, descontraído - Particularmente, eu adoro temperaturas baixas, mas a maioria das pessoas...
- Perdão - interrompeu Lucy -, mas eu estou com pressa.
Dizendo isso, tornou a virar-se. Então, teve um misto de horror e surpresa. O homem estava bem na sua frente. Notando o espanto que se formava no rosto de Lucy, falou:
- Nós dois estamos andando na mesma direção. Não seria pedir demais desfrutar de sua companhia por alguns metros de caminhada, seria?
Desconcertada, Lucy concordou. Realmente, não seria incômodo nenhum ser acompanhada por um belo homem até em casa. Porém, a cada passo este estranho se tornava mais enigmático. Conseguia ser tão assustador como sedutor, o que não dava muita segurança.
- Me chamo Victor - disse ele. - E a senhorita?
- Lucy - respondeu ela, olhando cautelosamente para os olhos de Victor. Malditos olhos, aqueles.
* Esse texto foi escrito com a intenção de ser públicado em outro projeto meu, mas resolvi adiantá-lo neste blog, com um título provisório, uma alusão ao conteúdo central da obra.
Lucy estava apressada, queria chegar em casa logo. Acabara se atrasando no trabalho e precisou ligar para a babá, pedindo que ela esperasse mais alguns minutos antes de sair. Pobre Anne, passava o dia todo com a babá, enquanto a mãe trabalhava no escritório do sr. Morrinson. Ás vezes Lucy pensava que a filha estava crescendo depressa, mas ela não estava lá para observar.
Se o pai de Anne tivesse se importado, tudo seria diferente. Os 200 dólares que mandava no fim do mes mal pagavam a babá. Lucy tinha de ser mãe, pai e ainda mentora financeira da casa. Entre cuidar do trabalho e do lar, acabava sem tempo para a filhinha. Acabava sem tempo para ela mesma.
Ajeitou os braços mais próximos do corpo para se proteger do vento frio. A visão periférica detectou uma espécie de movimento, e Lucy notou alguém do outro lado da rua. Não deu importância. Passou a lembrar dos tempos da faculdade, onde era jovem e bela, e as coisas pareciam maravilhosas. Lucy era loira, de rosto simétrico, com uma incrivel beleza para uma mulher na casa dos 28 anos. Mas não se comparava aos tempos de quando fora a garota mais irresistível do campus. Era extremamente bonita e usava isso a seu favor. Então veio Anne...
Lucy balançou a cabeça. Não podia pensar isso, não podia atribuir culpa nenhuma à sua criança. Ouviu passos ligeiramente atrás dela, e virou a cabeça para ver quem era. A pessoa que estava do outro lado da rua havia atravessado. Lucy percebeu que era um sujeito de cabelos bagunçados, extramamente claros, beirando o branco. Parecia ter cerca de 1,80, de corpo esbelto e ombros largos. Vestia um sobretudo preto, e um cachecol também preto dançava ao vento. Olhando melhor, percebeu que toda a vestimenta era preta. Mas o que mais chamava a atenção eram seus olhos: de um azul muito intenso, fitavam diretamente os olhos de Lucy. Pareciam perigosos, e, ao mesmo tempo, irresistíveis.
Lucy voltou o rosto para a frente, tentando entender o que havia de tão estranho com aqueles olhos, quando ouviu uma voz fria, porém amistosa:
- Normalmente recomendam às donzelas que não andem sozinhas depois do anoitecer.
Lucy virou-se, rindo de nervosismo, e respondeu:
- Eu sei.
- Frio, não? - perguntou o homem, descontraído - Particularmente, eu adoro temperaturas baixas, mas a maioria das pessoas...
- Perdão - interrompeu Lucy -, mas eu estou com pressa.
Dizendo isso, tornou a virar-se. Então, teve um misto de horror e surpresa. O homem estava bem na sua frente. Notando o espanto que se formava no rosto de Lucy, falou:
- Nós dois estamos andando na mesma direção. Não seria pedir demais desfrutar de sua companhia por alguns metros de caminhada, seria?
Desconcertada, Lucy concordou. Realmente, não seria incômodo nenhum ser acompanhada por um belo homem até em casa. Porém, a cada passo este estranho se tornava mais enigmático. Conseguia ser tão assustador como sedutor, o que não dava muita segurança.
- Me chamo Victor - disse ele. - E a senhorita?
- Lucy - respondeu ela, olhando cautelosamente para os olhos de Victor. Malditos olhos, aqueles.
* Esse texto foi escrito com a intenção de ser públicado em outro projeto meu, mas resolvi adiantá-lo neste blog, com um título provisório, uma alusão ao conteúdo central da obra.
domingo, 13 de junho de 2010
Alê, Valentin!
Ele não sabia se era frio ou quente, se iriam trazer sua jaqueta, se iam gostar da aparência, se ela ia receber o presente. Não sabia se era normal o pé parecer morto, o estômago explodir, a raiva subir à cabeça.
Esse nunca foi o seu ideal de história emocionante, muito menos o de um dia dos namorados. Mas isso não quer dizer que não foi bom, não quer dizer que ele não gostou.
Não importava pra ele se as coisas tinham saído um pouco do controle, se as churrasqueiras não poderiam ser alugadas, se ele teve vontade de cometer homicídios.
O que importava é que ela estava lá. E ele não cansava de notar, a cada vez que a via, de que ela era perfeita. O que a princípio foi um sentimento de "ela é bonita e legal" evoluia dia após dia, e no momento se descrevia na frase "não posso perdê-la, de maneira alguma".
Assustava demais, pensar em não tê-la mais. De não ter os beijos, os abraços, a paciência, o apoio. De não ter mais o amor. Estava tudo tão bem, que se o tombo viesse dessa vez, seria o pior de todos.
E a saudade, machuca, sim, mas se supera. Mesmo sonhando que moravam juntos, que podiam ter um ao outro a hora que quisessem, sabia que a realidade era diferente. E a realidade era que, não importam os dias que passam, eram todos vividos com um unico objetivo: esperar por ela.
Esse nunca foi o seu ideal de história emocionante, muito menos o de um dia dos namorados. Mas isso não quer dizer que não foi bom, não quer dizer que ele não gostou.
Não importava pra ele se as coisas tinham saído um pouco do controle, se as churrasqueiras não poderiam ser alugadas, se ele teve vontade de cometer homicídios.
O que importava é que ela estava lá. E ele não cansava de notar, a cada vez que a via, de que ela era perfeita. O que a princípio foi um sentimento de "ela é bonita e legal" evoluia dia após dia, e no momento se descrevia na frase "não posso perdê-la, de maneira alguma".
Assustava demais, pensar em não tê-la mais. De não ter os beijos, os abraços, a paciência, o apoio. De não ter mais o amor. Estava tudo tão bem, que se o tombo viesse dessa vez, seria o pior de todos.
E a saudade, machuca, sim, mas se supera. Mesmo sonhando que moravam juntos, que podiam ter um ao outro a hora que quisessem, sabia que a realidade era diferente. E a realidade era que, não importam os dias que passam, eram todos vividos com um unico objetivo: esperar por ela.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Crise de Abstinência
Restaram algumas partículas do teu perfume na minha roupa e na ponta dos dedos, e passei a usá-las como cocaína. Foram apenas algumas carreiras pra ficar alto. Viciei. Quando o teu cheiro encontra as vias respiratórias e toca a corrente sanguínea, eu fico eufórico. Já não consigo ficar alguns dias sem consumir dessa substância, preciso ingerir doses cavalares apenas pra enfrentar o dia. Pensei até em comprar um frasco do perfume que usas, e cheirá-lo alucinadamente. Não funcionou. É a fusão deste com o teu odor natural que se torna viciante. Sem falar que, como todo o viciado, parti para drogas mais potentes. Tua pele e tua boca me levaram à ruína. Agora eu vejo a minha vida voltada para o meu consumo desenfreado de ti, que não se consuma diariamente, e assim me consome por inteiro. O pior é que não quero me submeter à reabilitação, não quero me afastar dessa necessidade doentia. Sou assumidamente um dependente químico - seu.
domingo, 6 de junho de 2010
Soneto de Outono
Que tens nos olhos, ao me fitar desse jeito?
Parece que rouba todos os meus sentidos,
Encontra e rejunta os pedaços partidos
Que repousavam dentro do meu peito.
Que tens nos lábios, ao lançar esses risos?
É um sorriso que me invade, contagia,
Que me faz sorrir também, e até ousaria
Dizer que na doença, são o éter que preciso.
Oh, dias que não passam, longe da minha menina,
Se arrastam lentamente, como um pobre moribundo,
Que se nega à rendição e não aceita sua sina,
E quem explica essa lei, que governa nosso mundo,
Onde o dia esperado - quando chega - já termina,
E faz saudade doer, e o amor ser mais profundo.
Parece que rouba todos os meus sentidos,
Encontra e rejunta os pedaços partidos
Que repousavam dentro do meu peito.
Que tens nos lábios, ao lançar esses risos?
É um sorriso que me invade, contagia,
Que me faz sorrir também, e até ousaria
Dizer que na doença, são o éter que preciso.
Oh, dias que não passam, longe da minha menina,
Se arrastam lentamente, como um pobre moribundo,
Que se nega à rendição e não aceita sua sina,
E quem explica essa lei, que governa nosso mundo,
Onde o dia esperado - quando chega - já termina,
E faz saudade doer, e o amor ser mais profundo.
Assinar:
Postagens (Atom)