Um dia eu vi que as vozes na minha cabeça tinham boca, olhos e nariz. Tinham pernas e pés, braços e mãos também. Elas podiam andar, correr, pegar e matar. Acho que elas gostavam de seguir essa ordem: andavam até mim, me faziam correr (e corriam atrás), me pegavam e me matavam noite após noite.
Essas vozes odiavam luz, e por isso tiraram toda ela. Transformaram meu quarto em um lugar escuro: as paredes eram pretas e o chão parecia uma das paredes. Eu dormia nele, já que elas levaram a minha cama. Elas também levaram minhas roupas, minha família e a chave da porta. Minha vida era uma noite interminável, no mesmo quarto sem luzes, deitado no assoalho, com medo de levantar.
Essas vozes odiavam luz, e por isso tiraram toda ela. Transformaram meu quarto em um lugar escuro: as paredes eram pretas e o chão parecia uma das paredes. Eu dormia nele, já que elas levaram a minha cama. Elas também levaram minhas roupas, minha família e a chave da porta. Minha vida era uma noite interminável, no mesmo quarto sem luzes, deitado no assoalho, com medo de levantar.
Comecei a escrever um diário, e as vozes me ditavam o que escrever. Eram coisas tristes, cheias de raiva, de dor e de solidão, Era o mundo que elas conheciam, e o qual me ensinavam a conhecer. Cada dia eu sentia que uma parte de mim se esvaia, eu já não era tão humano assim. Não tinha mais ouvido o som da minha voz, pois eu ficava quieto, apenas escutando. As outras vozes, bem, elas nunca se calavam.
Mas então, parte de mim se perguntou como é que eu via os corpos, se tudo estava escuro e eu não conseguia ver nem o meu? Teriam essas vozes me enganado todo esse tempo, me fazendo viver isolado de tudo por ter medo de ser apanhado por suas garras imundas?
E aí eu ascendi a luz. E não tinha nada. Elas ainda falam, mas nunca mais dei ouvidos a essas vozes filhas da puta. Fodam-se elas.