quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Signum Crucis


... E ele caminhava com o olhar vago, quase que perdido. Parecia nem se importar com o genocídio que ocorria ao seu redor. Seus cabelos prateados, na altura da cintura dançavam no vento mórbido que precedia a morte. A armadura dourada dava a impressão de que era um titã, um monstro angelical encarregado de exercer a justiça divina. O escudo, enorme, parecia bloquear qualquer investida; se assemelhava a uma fortaleza, uma muralha impenetrável. Trazia na mão direita um terço, sempre junto a boca, e pelo movimento frenético dos lábios, parecia desferir novas preces a cada segundo.
A cada passo, mais corpos se afastavam, mais homens saiam de seu curso. Ele andava em linha reta, sem obstáculos, todos se curvavam, saiam da frente da aura assassina e igualmente pacifica que irradiava deste homem. Parecia mais um ser desequilibrado, seu olhar não demonstrava sentimento algum, não possuia expressões faciais. Não parecia humano. Continuava fitando um ponto vago no espaço, fixado em alguma outra dimensão, totalmente longe da guerra que o cercava. Foi atacado por um guerreiro demente, e sem parar de fazer suas preces, e sem ao menos olhar quem o estava atacando, se defendeu. O barulho do metal da espada batendo no pesado escudo que carregava quebrou a aparencia silenciosa que cercava-o. E mais uma vez, com uma frieza monstruosa, tirou a espada da bainha e desferiu um único golpe. Foi o suficiente.
Dizem que sua espada é benta com a mais pura água do mundo, e que sua misericórdia leva os pecadores direto ao inferno, e os puros direto aos céus. Dizem também que é um anjo, ou algo superior a um ser humano. Eu costumo dizer que é a própria palavra de Deus andando na terra. Era a criatura mais amedrontadora, a ira divina personificada, o justiceiro celeste, o demônio dos céus.

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