domingo, 27 de março de 2011

Nenhum de nós

Uma certa noite, você vai resolver ir para uma festa, sem compromisso algum. Você está solteiro a um certo tempo, não tem planos pra essa noite, só quer beber e curtir. Nem conhece a banda que vai tocar, apenas ouviu o nome. Talvez tenha alguém em sua mente, mas não é nada demais. Vai comprar uma cerveja e vai beber pra perder a vergonha. Provavelmente um amigo seu vai te apresentar alguém, mas você está tímido pra conversar. Chegar e beijar. E a festa continua, você nem se importa mais. Dorme na casa de um amigo, no outro dia va pra casa. Então, o tempo vai passar e as coisas vão acontecer e você vai ficar diferente. E sei lá, quase dois anos depois, você está perdidamente apaixonado por uma pessoa, você já não sabe mais o que é passar um dia sem falar com ela. Você nunca desejou tanto alguém como deseja agora. Sua pele estremece só de entrar em contato com a pele alheia. Os olhos se comunicam melhor do que as palavras, os beijos são os melhores que já recebeu, 24 horas passam em 32 minutos quando estão juntos. 
Nessas horas é difícil pensar que tudo começou em uma noite estranha, vocês nem se falaram, você detestou a banda e foi pra casa sem lembrar direito do rosto que hoje não sai da sua cabeça um segundo sequer do dia.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Parabéns pro papai

Bom, amanhã fazem 17 anos que eu estou presente no teu aniversário, e é engraçado, pois depois você vai estar 18 vezes no meu. E é engraçado pois você nunca vai ler isso. E é engraçado mais um monte de coisas.
Lembro de ter conversado com alguns amigos, e chegamos à conclusão de que um pai nunca vai ser amado do jeito que uma mãe é. Porém, nenhuma mãe pode magoar um filho do jeito que um pai pode. Sei muito bem o que é isso, senti na pele. Passei anos com raiva, ressentido. Em certo ponto, houve uma inversão de papeis, o filho no lugar do pai, o pai no lugar do filho. Não sei onde foi que erramos, não sei se fomos nós dois que erramos; no fim ninguém tem culpa de nada, e todo o mundo é culpado.
Eu sei que eu não sou a única pessoa do mundo que não teve o pai presente na vida. O meu esteve, mas do jeito dele. Nunca me viu jogando, nunca me viu tocando, chegou uma hora que eu me acostumei. Ainda faz falta, por Deus, como faz. Mas hoje eu sou "quase um adulto" e eu já consigo entender, você não fez por mal. Esse é o teu jeito, e em (amanhã) 60 anos, ninguém pôde mudar. Me obrigo a admitir que você tem atitude. Eu aprendi a buscar referência em outras figuras masculinas, em coisas que me completassem, pois mesmo parecidos, somos muito diferentes. Tenho muito da minha mãe em mim, talvez por isso você gosta tanto de mim, e ao mesmo tempo, perde a paciêcia comigo tão facilmente.
Só queria, do meu jeito, te desejar parabéns, e escrever que eu amo você muito. Não sei se tenho coragem de falar isso pra você, não sei como você reagiria ao ouvir, mas eu te amo muito, mesmo, aprendi a amar. Eu realmente queria que tudo entre nós dois tivesse sido diferente, mais próximo, mais intenso. Um dia eu vou estar no seu lugar, e acho que vou viver o sonho que eu sempre tive, de como eu queria o meu pai. E, mesmo assim, pode ter certeza, que eu vou continuar tentando ser o filho que você queria ter. Ainda vou ouvir você falando que está orgulhoso de mim, pai, e te peço perdão por tudo o que eu já senti de ódio por você. Hoje no meu peito não tem mais mágoa nenhuma em relação a ti, te perdôo silenciosamente de todas as acusações que eu tinha feito. 
Resumindo tudo o que eu quis dizer antes, feliz aniversário, Pai.

Manias.

Ela tem mania de beliscar, de morder, de arranhar. Tem mania de esmagar, de colar o corpo contra o dela, de rir. E tem um riso gostoso, um riso que é lindo de se observar. Ela tem mania de deitar no meu colo e dormir, faz do meu corpo um travesseiro. Tem mania de adormecer rapidamente, quando consegue adormecer. Tem mania de ficar brava com quase tudo, de ter ciumes até da minha sombra. Tem mania de ficar emburrada e depressiva e outras coisas mais que a tornam diferente, a tornam triste. Mas a tristeza não diminui a beleza, ela continua lá, linda. Ela tem mania de parecer uma menina, a minha menina, e as vezes tem mania de ser mulher. Ela ri, brinca, apronta e chora, como uma garotinha faz, e mais uma vez, me pego observando a beleza nesses modos, que eu não vejo em outras pessoas. E então ela se arruma, se veste, anda e fala decidida como uma mulher, madura no auge de seus dezessete anos vividos. Ela tem uma mania engraçada, de fazer eu me apaixonar todos os dias que eu a vejo.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Hold on to my heart

Quando mais os dias passam e mais as coisas se apressam, mais incerto é o nosso destino. Ao invés de trazer a certeza, o tempo vem trazendo a dúvida. Sabemos disso mais do que ninguém, sofremos com isso mais do que qualquer um poderia sofrer. E por mais que eu diga que devemos guardar as dores pra quando elas realmente forem necessárias, não consigo esconder a minha dor em saber que você e eu podemos estar mais longe do que já estamos. Sempre fui otimista quanto a nós dois, mesmo não sendo a pessoa mais otimista do mundo quando se fala de amor. Sei de um milhão de casais frustrados que prometeram viver juntos para sempre, e falharam miseravelmente. Eu não quero que façamos parte desses casais.
Te peço que segure firme na minha mão, como faz todas as vezes que estamos juntos, e que prometa que vai lembrar de mim, aonde quer que estiver, não importa quanto tempo passar. Como eu te falei, não vou nunca desistir de você. Passei tanto tempo tendo um único sonho, sabes bem qual  é. Hoje, eu tenho mais um sonho de vida, e creio nele com a mesma força do primeiro. Esse sonho, meu bem, é você.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Percepção

Ela olhava para os lados, perdida em pensamentos.
- Obrigado - disse ele.
Estranhando a pergunta, ela olhou-o nos olhos e quis saber o porquê do agradecimento.
- Por ter me feito perceber como é quente o teu abraço, como é doce o teu beijo, como eu sinto falta do teu olhar, e mesmo da tua voz de censura. Por ter feito eu ficar com medo de te perder, por ter feito com que eu ficasse preocupado, por ter feito a consciencia ficar pesada. Obrigado por me fazer ficar com raiva, me fazer querer acabar tudo, me fazer te odiar com todas as minhas forças, por me fazer derramar lágrimas. Por me fazer perceber o quanto eu sou dependente de você. Obrigado por me fazer sentir amor de verdade, não só uma paixão, uma vontade de ter alguém. Obrigado por me fazer sentir a coisa mais bonita que eu já pude entender, e por marcar pra sempre o teu nome no meu coração.
Ela ficou com os olhos cheios de lágrimas, e foi lhe dar um beijo, mas ele disse:
- Desculpa.
Sem entender nada novamente, e com cara de espanto, quis saber o motivo do pedido de desculpas. E ele respondeu:
- Por eu não ter dito isso antes.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Blitzkrieg

Precisamos de alguns choques pra reagirmos de maneira natural. As vezes esquecemos quem realmente somos. As vezes vemos alguma coisa que nos faz mudar de opinião. Tive a impressão de ler pensamentos, de ver meu futuro, e achar que queria algumas coisas de modo diferente. Não é certo ser imutável, mas mudar coisas que não se quer mudar é o prelúdio do arrependimento. Então ver tudo o que odiamos na nossa frente, como um tapa na cara, é um banho de água fria. Todos temos um instinto homicida, uma raiva contida, algo que não sabemos administrar muito bem, e que cedo ou tarde se revela. A simples vontade de cometer uma agressão já é um meio de perder o controle.
Tudo começa com uma faísca, logo o fogo é incontrolável. A violência, o sexo, as drogas, as mentiras e o suícidio são o que eu chamo de verdadeira face humana: uma face suja, sórdida e sem salvação. E é isso que todos insistimos em acreditar, em salvação. Matamos, mentimos e contratamos prostitutas, mas mesmo assim esperamos clemência divina.
Existe muita raiva dentro de mim, muito mais do que eu deixo transparecer. Talvez eu seja um pouco mais psicopata do que as pessoas ao meu redor, não sei se isso é bom ou ruim. Mas não acredito em coisas ao acaso, voltei a acreditar que existe algo nos vendo e nos guiando, tanto para o bem como para o mal. Como já disse um certo alguém, "as vezes os erros fazem parte da solução."

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Translação

Assim como as estações, pessoas têm períodos distintos, do calor extremo e de cores vibrantes ao zero absoluto cinza chumbo. As pessoas passam muito tempo no inverno, soterradas na neve, longe da luz e do fogo. Sofrem necrose de sentimentos. O vento gelado corta o peito diariamente. As lágrimas são tempestades barulhentas e assustadoras, porem inevitáveis. Então os dias passam e vem o sol escaldante, a água de côco, o banho de mar. Tudo está maravilhoso, o sol brilha todo o dia, a noite demora pra chegar. As flores estão sorrindo, e o céu tem a cor dos olhos mais azuis.
Odeio o frio, a chuva e o vento, prefiro o calor e os raios de sol. Já se foi o tempo em que sorrisos eram só disfarce, não tenho a tristeza que costumava sentir. Ainda há os olhos e a maquiagem, o cabelo e sua tintura, que remetem ao fundo da alma. Ainda há uma ponta de loucura, agonia e depressão, que a cada dia mais se traduz em crueldade. Agora entendo como surgem os vilões, começam com tristezas e incertezas que se transformam em segredos e mentiras. Aprendemos a guardar palavras, a guardar ideias.
E se já não choro ou desabo, ainda odeio e faço pouco caso. Eu machuco e sei disso. E ainda mais: amo com a mesma intensidade que consigo odiar. Não pensei mudar tanto assim, mas é o curso das vidas; encontrei um sol para girar em torno, o qual sustenta a vida que há em mim. Encontrei alguém que me fez pensar diferente, mesmo que não seja tão diferente assim. Aprendi que me cuido mais com alguém que cuida de mim.